O crédito de cobrança duvidosa concedido pelas instituições financeiras portuguesas, malparado que, em abono da verdade, nunca foi muito elevado (mesmo em momentos críticos ronda os 2%, a percentagem aceitável e sempre tida em conta sob a designação de percentagem projectada), tem vindo a diminuir.
Os pessimistas, os que não acreditam que estes números traduzam um crescendo de boas contas por parte das famílias portuguesas, dizem que este fenómeno fica a dever-se ao facto de os bancos venderem carteiras de créditos malparados a outras instituições. Esta engenharia também ajuda, mas não explica tudo.
Mas a Economia não pode ser apenas avaliada pela frieza dos números. Uma dívida de um milhão e meio de contos (na moeda antiga que ainda mantém a linguagem cheia dos contos), não tem o mesmo peso se corresponder à dívida de uma única pessoa ou se corresponder à soma das dívidas de algumas dezenas de pessoas.
Quem deve 30 mil contos a um banco, pedidos para adquirir casa própria, passa a vida preocupado com a hipótese de não conseguir cumprir, a tempo e horas, com as obrigações decorrentes de tal empréstimo, concedido, muitas vezes, em condições bem menos favoráveis das que oferecidas aos grandes devedores.
Uma preocupação dominante que, dificilmente se instala em quem consegue obter, junto de uma instituição bancária, um empréstimo de um milhão e meio de contos. Nesse caso quem passa a sentir enorme preocupação durante o tempo de vida de tal crédito é o credor. Este conhecimento também importa à Economia.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 13 de Março de 2010 no Expresso