O produto que se oferece e aquele que se procura no mercado imobiliário, é, para muita gente, definitivo e único, o que não impede que o encontro entre a oferta e a procura possa depender de muitos vectores, alguns dos quais subjectivos, que se prendem com o traço arquitectónico, com os materiais e equipamentos utilizados na construção e até com a moda.
Isto faz-nos pensar no legítimo papel da oferta imobiliária, e equacionar a nossa acção, entre dois extremos, que vão da prática em criar necessidades na procura à prudência e razoabilidade de adaptar a oferta às necessidades da procura.
Como tenho vindo a dizer em muitas instâncias, pelas características do principal produto do mercado imobiliário, o ritmo é em primeira linha determinado pela procura. É o consumidor quem dita as regras do jogo, mesmo quando julgamos o contrário ou mesmo quando julgamos que são eficazes estratégias que ignoram esta componente.
Nós, mediadores imobiliários, que somos a chave para uma eficaz aproximação entre a Oferta e a Procura, não podemos ignorar que há excesso de oferta imobiliária para venda e não apenas pelo facto de certa procura não ter as condições necessárias para poder satisfazer-se na oferta existente, por dificuldade de acesso ao crédito.
É que também, tem vindo a oferecer-se, como novo, algum produto imobiliário que é, realmente, velho ao nascer, nomeadamente na qualidade apresentada, face ao estado da arte da construção. Hoje não se vende tudo o que se construía, como nos anos de ouro da explosão do nosso imobiliário. E para o novo que nasceu velho não há investidor, nem estrangeiro, que se tente.
Em Portugal, não há mais lugar para o que se constrói à pressa, como aquele que construímos e entregamos à procura quando pensávamos que não haveria amanhã e toda gente queria ter a casa que não tinha. Pior do que os imóveis que se tornaram “obsoletos” e que ainda terão alguma esperança de vida na reabilitação, são aqueles que nasceram velhos e mantêm-se virgens a envelhecer.
Pior e grave, pois somos um país sem grandes recursos, que não pode dar-se ao luxo de desperdiçar os poucos que possui. Por isso, teremos sempre que tentar evitar o camartelo, o que implica, em muitas situações, “remendar” produtos imobiliários menos modernos, menos confortáveis e menos espaçosos, numa tarefa nem sempre fácil que implica estratégias muito próprias.
Mais do que nunca, temos de aprender, todos nós, que o imobiliário é uma das componentes chave de qualquer projecto de vida e como tal tem de ser tratado.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 13 de Novembro de 2009 no Sol