Li na revista de bordo da Luftansa, na edição de Novembro, se a memória não me falha, que o maior edifício do Mundo, ainda em construção, já é a Torre do Dubai – The Burj Dubai – prevendo-se que a obra venha a atingir, pelo menos, 818 metros de altura.
O número 818 já é um número impressionante, especialmente se se referir aos metros e altura de um edifício, mas chegou a ser pequeno para algumas promessas de percentagem de lucro que se ofereciam no mercado imobiliário do Dubai.
Segundo testemunhos insuspeitos, o mercado imobiliário no Dubai estava tão aquecido, nos últimos anos, que a profissão de mediador era mais atractiva do que a de advogado ou médico. A atracção residia, quase sempre, no lucro fácil da especulação.
O esquema é clássico: adquire-se um imóvel no papel, entrega-se uma entrada de 10 a 15%, coloca-se o imóvel em revenda e espera-se que o segundo comprador pague o suficiente para cobrir a percentagem especulativa de lucro pretendido.
Estas especulações inflacionam os mercados imobiliários até ao momento da saturação e da paralisia do próprio mercado, com os preços a cair do alto de todas as grandes torres do capitalismo selvagem, ou seja, desregulado.
Ao contrário dos imóveis que se erguem numa lógica competitiva que visa alcançar, por exemplo, o topo do ranking dos maiores edifícios do Mundo, a “árvore” especulativa não cresce até ao céu, e, quando pára pode gerar uma perigosa vertigem financeira.
Por estes dias em que o Emirado de Dubai, atingido pela crise financeira, está a pedir aos credores de seu conglomerado Dubai World seis meses de moratória para o pagamento de uma dívida, por estes dias, tudo isto volta a reequacionar-se.
O espectro da falência do Emirado de Dubai veio reavivar inquietações sobre a saúde financeira de alguns países, e faz pensar que as mais altas e belas construções podem esconder realidades negras de consequências imprevisíveis.
Será que um edifício que se proponha ser o maior do Mundo consegue gerar, após concluído, uma atracção turística tal que compense os enormes gastos que a respectiva construção necessariamente acarreta?
Embora questionando-me sobre esta potencial relação causa / efeito, julgo que, o cerne da questão não está, realmente, em saber se vale a pena, economicamente, construir um edifício que venha a superar o que actualmente é o mais alto do Mundo.
O que importa sublinhar, é que o valor do património construído, seja o do edifício mais alto, seja o do mais estreito, ou de outro qualquer superlativo relativo de superioridade, deve ser sempre o valor mais aproximado do valor de mercado e nunca especulativo.
Esta transparência, que sistematicamente defendemos, é, julgo eu, um dos segredos dos mercados seguros e equilibrados que se consolidam fora das lógicas especulativas para credibilizarem o próprio sector imobiliário.
A segurança do investimento neste sector passa muito por esta confiança. Modéstia à parte, Portugal tem sabido manter muita sabedoria nesta matéria tão sensível para as economias. Seguramente, à custa de não termos grandes arranha-céus.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 4 de Dezembro de 2009 no Sol