A saúde dos bancos é como a saúde dos reis nos regimes monárquicos – é assunto de Estado, a merecer comunicado regular da Casa Real com os resultados dos check-up’s médicos que os monarcas realizam ou devem realizar regularmente.
Nós por cá, a comemorarmos o primeiro centenário da República, estamos presos aos resultados dos testes de stress a que os bancos portugueses, incluídos num rol de 91 instituições bancárias europeias, se submeteram recentemente.
Depois daquele susto do subprime e do colapso do velhinho Lehman Brothers, o segundo maior banco de investimentos dos Estados Unidos, que faliu vai para dois anos, aos cento e cinquenta e tal anos de vida, depois deste susto, todos os testes parecem poucos.
Tudo esperançado na confirmação da boa saúde financeira da maioria dos bancos, condição indispensável, neste quadro de debilidades económicas da Zona Euro, para relançar a confiança dos investidores, apesar das dívidas públicas conhecidas.
Sem reinventar velhos ditados, direi que as dívidas públicas talvez possam ainda salvar-se pelas virtudes privadas, mas esta receita exige que o coração do sistema – os bancos – não se percam na cura das suas próprias maleitas, esquecendo a função de bombar sangue no próprio sistema.
Sem que esta questão possa ser vista como um ciclo vicioso, e, até pelo contrário, deva ser considerada como um verdadeiro ciclo virtuoso na exacta medida em que a boa saúde da banca é fundamental para as Economias de Mercado, mas desde que a banca continue a ser banca.
É isso que as populações que vivem e gostam de viver em regimes monárquicos esperam da saúde dos respectivos reis e das respectivas rainhas – que estejam bem e que bem se recomendem para melhor poderem governar o reino.
Nós por cá, mesmo numa República já centenária, também estamos suspensos do resultado dos testes de stress aos bancos portugueses. Que nada, mas mesmo nada lhes falte, para que eles não faltem aos seus deveres de monarcas do sistema. De preferência monarcas magnânimos.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 23 de Julho de 2010 no Diário de Notícias