Um dos exercícios mais estimulantes para um amante de jornais é ler edições antigas, já amarelecidas pelo tempo, exercício mais fácil de concretizar em revistas do que em jornais, pois o papel daquelas envelhece mais lentamente. A leitura de revistas velhas é um dos atractivos de muitas salas de espera, nomeadamente em consultórios médicos, e tem o condão de mostrar como, às vezes, damos demasiada atenção a assuntos sem importância, quase ignorando temas realmente importantes.
Não foi o caso do recorte de uma edição de um jornal que já não existe – a primeira página do Diário de Lisboa de 16 de Maio de 1975 -, recorte que, há dias, veio parar-me às mãos, sem que eu consiga descobrir a razão pela qual terá sido guardada uma relíquia assim, pois nem o Diário de Lisboa era um dos jornais das minhas leituras nem, à data, eu tinha grandes hábitos de leitura da Imprensa escrita.
A manchete dessa edição do Diário de Lisboa, cujo director era A Ruella Ramos e o Director-adjunto o escritor José Cardoso Pires, citava uma frase do então Major Melo Antunes, à data Ministro dos Negócios Estrangeiros do IV Governo Provisório, onde se lia que “O destino de Portugal está ligado a Angola”. Trinta e cinco anos depois, essa mesma frase continua actualíssima, e, poderia ser a manchete de um jornal dos nossos dias, ganhando, seguramente, outra dimensão.
O destino de Portugal volta a estar ligado a Angola, agora num quadro muito diferente que é o da afirmação do espaço da lusofonia, um espaço cultural, centrado na língua portuguesa, e um espaço económico de peso no Mundo, por integrar um pais da União Europeia e mais sete países, entre os quais o país âncora da América do Sul – o Brasil – e grandes países africanos, como Moçambique e Angola, este último a afirmar-se como uma potencia africana emergente.
A internacionalização da nossa economia, incluindo naturalmente a internacionalização do sector imobiliário português, que passa pela melhor promoção das regiões de Portugal que oferecem turismo residencial de elevada qualidade, do Minho ao Algarve, passando pelas regiões autónomas dos Açores e da Madeira, a internacionalização da nossa economia também tem, no espaço da lusofonia, longos, mas seguros, caminhos a percorrer.
No dia agendado para que esta minha crónica veja a luz do Sol, a Associação de Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), a que tenho a honra de presidir, organiza, em Lagoa, no Algarve, no âmbito da feira da actividades económicas FATACIL, um seminário que relaciona o turismo residencial com a retoma económica. E se, tudo correr como o previsto, estaremos hoje, no Algarve, a pensar um futuro que se espraia pela lusofonia. Cumprindo uma velha manchete de 35 anos.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 20 de Agosto de 2010 no Sol