A visita da ministra do Ambiente e do Ordenamento do Território a Rans, conhecida freguesia do concelho de Penafiel, para acompanhar o processo de limpeza do Rio Cavalum, mereceu, muito justamente, um destaque significativo na generalidade da comunicação social.
Dulce Pássaro quis ver ”in loco” este projecto, lançado pelo departamento do Ambiente da empresa municipal Penafiel Verde, iniciativa que já despoluiu 3,5 dos 17 quilómetros do Rio Cavalum.
Com o objectivo de fazer regredir o Rio Cavalum ao “estado de poluição zero”, este projecto mobilizou 15 beneficiários do subsídio de desemprego que aceitaram integrar a equipa, recebendo por tal uma compensação extra, além do subsídio que estão a receber.
Tão importante como o esforço para despoluir o rio, este processo, que não é único na região Norte, ganha maior dimensão pelo facto da limpeza estar a ser levada a cabo por trabalhadores que estão no desemprego.
São, na sua maioria, trabalhadores desempregados de longa duração, alguns dos quais – a fazer fé em testemunhos radiodifundidos – se encontravam já numa fase de desespero pela falta de trabalho, mesmo continuando ainda a receber o subsídio de desemprego.
A batalha pela despoluição que se trava no leito e nas margens do Rio Cavalum estende-se assim também à batalha que urge travar contra uma outra poluição que pode instalar-se em alguns sectores da população, por via da desvalorização do trabalho.
Num quadro de apoio social ao desemprego, mesmo que não seja tão elevado como noutros países da União Europeia, a potencial desvalorização do emprego em sectores que estão, há muito, sem ocupação, pode ser grave a médio e a longo prazo.
É consensual que o trabalho está e estará no centro das sociedades. Quem não trabalha, quem se situa, voluntária ou involuntariamente, nas margens do trabalho, é que pode correr o risco de ingressar no exército dos excluídos.
Esta preocupação está na base do acordo que existe entre quem trabalha e os Estados que têm preocupações sociais, quando ambos concertam sistemas capazes de assegurar recursos para minorar as potenciais situações de desemprego.
Esta preocupação dos Estados Previdência é também uma forma de valorizar o trabalho, de valorizar o estatuto social do trabalho como um dos pilares das modernas sociedades que se organizam para gerar mais riqueza e para a distribuir de forma mais equitativa e justa.
O que a visita de Dulce Pássaro a Rans mostrou ao país foi a necessidade de se encontrar novos paradigmas para acudir ao flagelo do desemprego, evitando também a tentação (fácil quando há dinheiro) de promover algum acomodamento ocioso.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 8 de Dezembro de 2010 no Público Imobiliário