Tenho uma série de amigos / conhecidos, que me telefonam com frequência, na esperança de que eu lhes indique uma ou duas pechinchas imobiliárias. Alguns deles admitem vender as casas onde habitam, mas desde que o façam a bom preço, ou seja, com uma valorização constante desde o momento em que as adquiriram.
Quem compra, pensa sempre que está a comprar caro e quem vende julga que o faz ao desbarato. Em muitos de nós vive um insensível investidor que tenta esmagar os preços na hora de comprar, sobrevalorizando o que possui na hora de vender. Isto é negar as próprias leis do mercado e é um sonho egoísta inatingível.
Na cegueira destes comportamentos – típicos de épocas de incerteza como a que vivemos -, aqueles que forçam a desvalorização dos preços, nomeadamente nesta área da construção e do imobiliário, nem percebem que estão a desvalorizar o património imobiliário que eventualmente já possuam, o que é um verdadeiro tiro no pé.
Embora o valor do património imobiliário não se afira pela avaliação bancária dos imóveis e muito menos pelo tecto dos empréstimos a conceder (em regra nunca superior a 80% do valor da actualmente muito apertada avaliação), este subjectivo desgaste permanente é um factor de perturbação do mercado e, por consequência, da própria recuperação económica que este persegue.
Não há qualquer tendência para que o valor das casas sofra quebras e muito menos na ordem dos dois dígitos, como muito gente apregoa. Na verdade, em Portugal, o valor do património imobiliário não está inflacionado. Não cedemos, nos últimos tempos, à tentação das bolhas imobiliárias, nem somos contagiáveis por essa doença infantil de alguns mercados vizinhos.
As bolhas imobiliárias são, de facto, uma verdadeira doença infantil do mercado imobiliário, uma espécie de sarampo, que já não atingem mercados maduros como o nosso, um mercado “vacinado” no “boom” imobiliário dos anos 80 do século passado, quando o nosso parque habitacional sofreu uma profunda alteração.
Insistir, como até alguns fazedores de opinião parecem estar empenhados, nessa ideia da desvalorização do património imobiliário, ideia que, infelizmente, pode até ter resultados pontuais, é apenas uma manifestação de oportunismo sem correspondência no mercado que nada ajuda a quem a promove nem à recuperação económica.
Por isso digo, neste início do ano um da reabilitação urbana, que há más notícias para quem procura pechinchas, mas boas notícias para quem quer estar no mercado imobiliário a investir de forma transparente, sem especulações, contribuindo para que este sector volte a ser uma locomotiva da Economia.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 5 de Janeiro de 2011 no Público Imobiliário