Algumas sensibilidades políticas insulares das nossas regiões autónomas, em especial na Madeira, mas também nos Açores, não escondem um certo agastamento relativamente aos chamados Ministros da República, agora denominados Representantes da República, vendo neles uma tutela política indesejada.
Mal comparando, poderá haver a tentação de olhar para os representantes da Comissão Europeia, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Central Europeu, que integraram as negociações para o resgate da nossa dívida, como uma espécie de Ministros da Troika atentos ao mínimo pretexto para interferir na nossa soberania.
As negociações, “intensas e exigentes”, que culminaram no empréstimo internacional ao Estado português que tem sido a notícia do dia há longos dias, apontam para um ajustamento orçamental audacioso, para acelerar reformas estruturais que apontem para o crescimento e para a produtividade e que garantam a liquidez do sector financeiro.
Sem paixões exacerbadas, direi que todos aqueles objectivos teriam de ser assumidos, mais cedo ou mais tarde, por nós, mesmo sem a pressão de todas as “sugestões irrecusáveis”, por parte de quem, gostemos ou não, tem legitimidade para os sugerir, especialmente , quando mostram-se dispostos a adiantar-nos algum dinheiro.
Não será só um vale de caixa, reconheço, e, neste quadro, cada um de nós deve assumir-se como um autêntico ministro da Troika. De forma a que este processo dê certo e de forma a que os verdadeiros ministros da Troika não tenham pretexto para nos apontar qualquer falha, no âmbito de um empréstimo concedido, é bom não esquecer, para salvaguardar a própria moeda única.
Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP
Publicado dia 14 de Maio de 2011 no Expresso