Há três meses, na sequência das minhas intervenções no III Encontro Brasileiro de Correctores de Imóveis (ENBRACI) que teve lugar em Brasília, evento que também justificou a realização, na capital federal do Brasil, de uma reunião da Direcção da Confederação do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa (CIMLOP), há três meses defendi sem hesitações que a eventual privatização da TAP só será benéfica para o espaço da lusofonia se esta companhia aérea for comprada por capitais lusófonos, por exemplo brasileiros.
O que está em causa é a manutenção de rotas aéreas entre as principais capitais lusófonas, ligações que, actualmente, fazem a grande diferença da TAP relativamente a outras companhias aéreas europeias, situação que se alterará, e muito, caso a companhia aérea de bandeira portuguesa seja integrada noutra companhia, por exemplo europeia, que naturalmente privilegiará a respectiva cidade mãe no desenho das rotas futuras.
Viajante por natureza, fiz questão de terminar uma das minhas intervenções em Brasília com uma reflexão sobre a perspectiva, já então muito clara, da privatização da TAP. Lembrei, na ocasião, que as rotas brasileiras da TAP, não tendo sido as que garantiram mais passageiros, tinham, em 2010, garantido 35% das receitas da companhia aérea portuguesa. A companhia atingiu, no ano passado, 9 milhões de passageiros, perspectivando um crescimento precisamente para o Brasil, cujos voos são potencialmente mais rentáveis por serem de longo curso.
Isto justificava como continua a justificar que todos aqueles que apostam em espaços económicos alternativos para um desenvolvimento sustentável, como é o caso do emergente espaço da lusofonia, manifestem um legítimo desejo de que a eventual privatização da TAP não faça voar esta companhia para fora dos céus onde falamos e negociamos melhor em Português.
Seria de facto desastroso que a sigla TAP deixasse de significar, em Português, Transportes Aéreos Portugueses , para passar a traduzir uma, pelo menos para nós, irónica expressão em inglês – Take Another Plane – expressão pejorativa já várias vezes utilizada para denegrir a própria companhia. E poderá ser este o destino dos passageiros que viajam entre capitais lusófonas, isto é, apanhar outro avião, na tradução para português daquela expressão inglesa.
Especialmente se a TAP vier a ser adquirida por capitais não lusófonos.
Julgo que esta minha antiga preocupação é precisamente a mesma que, ainda há poucos dias, o presidente da CIP, António Saraiva, manifestava em público. É bom que cresçam as vozes neste sentido, pelo menos para despertar o interesse dos capitais lusófonos na portuguesíssima e lusófona TAP.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 07 de Outubro de 2011 no SOL