Numa entrevista a um jornal sueco, o Primeiro-Ministro admitiu a probabilidade de um aumento sustentável da procura interna em Portugal, para o ano de 2014. Com todo o respeito que o Primeiro-Ministro me merece, se o regresso de uma procura interna capaz de contribuir para o próprio crescimento da nossa Economia vai demorar tanto, eu não estaria tão confiante como o Dr. Pedro Passos Coelho disse estar nessa entrevista.
A população que vive em Portugal não é tanta que possa, só pela procura interna, garantir crescimentos económicos significativos como acontece noutros países que estão a alterar o desenho das respectivas pirâmides sociais, tentando erradicar ou diminuir fortemente a pobreza e aumentar a população considerada da classe média, pelo acesso a um emprego estável na Economia formal.
O que está a acontecer entre nós tende para o contrário. A nossa pirâmide social está a readquirir o desenho mais clássico, com uma base muito alargada, a dos sectores da população mais carenciados, e os restantes níveis a afunilar rapidamente com todos os efeitos colaterais de um tal adelgaçamento: só nos dois primeiros meses de 2012 já foram penhoradas quase seis mil casas.
Junte-se os mais de seiscentos mil portugueses que estão no desemprego, muitos dos quais já sem apoios públicos, os cem mil que têm salários penhorados e a enorme quantidade de microempresas que estão a encerrar. Muitas destas empresas foram soluções de criação do próprio emprego, formal ou informalmente, num fenómeno bem português da área do pequeno comércio e dos serviços, que mascara o próprio desemprego.
O golpe de misericórdia para a classe média prossegue com a chegada da conta do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) que, mesmo sem os aumentos verificados já seria muito difícil de pagar, pelo menos para aqueles que este ano vão perder o subsídio de férias e o subsídio de Natal. Há muito que estes subsídios eram, para muitos contribuintes, balões de oxigénio para muitas contas, impostos incluídos. A Esperança, afinal, pode não ser a última a morrer.
Luis Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 17 de março de 2012 no Jornal de Notícias