A introdução de portagens virtuais nas SCUT, as estradas anteriormente classificadas como sem custos para o utilizador, teve, como muita gente incluindo eu foi dizendo, um visível efeito devastador no turismo de estrangeiros que entravam em Portugal de carro, e um efeito menos visível mas não menos devastador, para os próprios automobilistas portugueses que agora fogem dessas estradas e optam por vias alternativas menos seguras.

O país para ganhar uns tostões está a perder alguns milhões. O ganho nas novas portagens dos que continuam a utilizar as SCUT está longe de compensar a perda de estrangeiros que esta opção determinou. Isto sem esquecer que qualquer estrangeiro deixaria muito mais do que o preço das portagens na primeira paragem numa estação de serviço, realidade que não parece ter sido levada em conta na hora destas decisões.

A quebra de turistas verificada no fim-de-ano, quer a Sul, quer a Norte, tem vindo a consolidar-se com valores que oscilam entre os 30 e os 40% na circulação pelas antigas SCUT. Reavaliar esta situação, tendo em vista a adoção de isenções a este pagamento, seria uma medida inteligente. Desde logo para os automóveis com matrícula estrangeira, mas também para população local e para os chamados utilizadores frequentes.

O preço que o Estado pagará a médio prazo pela fuga de automobilistas nacionais para as estradas secundárias, de menor segurança e consequente maior risco, não é de fácil contabilização mas é seguramente um preço muito elevado que também não ajuda a entender a bondade da adoção das portagens virtuais nas SCUT. Ver um pouco mais longe deve ser uma das virtudes da política, mas, no caso em apreço, nem seria preciso ter uma visão muito apurada nesse sentido para alcançar a verdadeira dimensão desse fundamentalismo.

Tampouco poderemos evocar o princípio, que aliás defendo, do utilizador pagador. Neste caso concreto, e por razões já descritas, obrigar o utilizador a pagar, afugentando-o de estruturas como as SCUT, gera situações que a prazo se tornarão mais dispendiosas para o próprio Estado. Não contando com o preço de termos estruturas rodoviárias que são, cada vez mais, menos utilizadas.

Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 31 de março de 2012 no Jornal de Notícias

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