Um empresário que considero enviou-me o recorte de um dos artigos que Martin Wolf regularmente publica no Finantial Times, reflexão onde consagrado e reconhecido economista considera que as receitas que a Alemanha (leia-se também Banco Alemão) preconiza para a crise, estão erradas.

A linguagem de Wolf é, pela natureza do seu pensamento científico e pelo público alvo que visa, suficientemente especializada para seleccionar leitores razoavelmente iniciados nas questões das ciências económicas e políticas, sempre muito ligadas, mas o que este economista diz nas suas reflexões públicas sobre a Economia global contempla o que muita gente tem vindo a reclamar – que tem de haver mais vida para além da austeridade.

A austeridade imposta em nome de disciplinas fiscais e orçamentais rígidas tem diminuido brutalmente a capacidade dos mercados internos de alguns países periféricos da Zona Euro, incluindo Portugal, o que, por força e face à inesperada e não prevista quebra dos chamados fluxos privados de capitais, acabará por gerar um empobrecimento generalizado dessas periferias, com consequências a prazo também nos centros.

Por outras palavras, o excesso de austeridade receitado a países como Portugal, como a Irlanda, como a Grécia, e até como a Espanha, é, ou pode ser, um remédio excessivo que disciplinará algumas situações a merecer disciplina mas de forma tão violenta e a um custo tal que, a curtíssimo prazo, o horizonte desses países é o da sobrevivência num denominador comum de pobreza.

Com mercados internos debilitados e sem o benefício dos financiamentos vitais para gerar dinâmicas mínimas de recuperação económica (é também isso que divide o pensamento económico dominante na Alemanha de muitos outros polos de reflexão europeus), estas periferias podem estar condenadas a comprovar o que Wolf diz, ou seja, que o Banco Alemão está errado.

A leitura que faço deste e de outros artigos de Martin Wolf, é que este peso pesado do pensamento que reflecte sobre as questões económicas também diz, posto que naquela linguagem só acessível aos iniciados, o que outros têm vindo a dizer de forma mais simples e didática – que há mais vida para além do défice e que temos de evitar que a cura nos mate.

O artigo que reli quando recebi o recorte a que já fiz referência termina com uma referência às estratégias que apostam no empobrecimento dos vizinhos (“beggar thy neighbour”), uma tentação que será fatal não apenas para quem empobreça mas também para a própria Economia Global tão glorificada. Nós podemos estar já a sofrer alguns efeitos destas tensões, nomeadamente na tendência, ainda evitável, para a desvalorização forçada do nosso património imobiliário.

Luís Lima

Presidente da APEMIP 

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 27 de abril de 2012 no Sol

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