Em contra ciclo com o esforço nacional no sentido de fazer com que a nossa economia regresse à normalidade e em clara colisão com tudo o que é regra neste domínio, há um fenómeno no mercado imobiliário que importa travar e que consiste em forçar as regras da lei da oferta e da procura, na tentativa de impor uma baixa de preços a par e em simultâneo com uma uma baixa da oferta.
Isto – recorde-se – num mercado imobiliário, o nosso, que soube evitar uma bolha imobiliária como a que deflagrou noutras economias perto de nós, e que, por este feito, é reconhecidamente por terceiros, um bom e seguro destino para investimentos que a crise financeira mundial tornou órfãos ao afastá-los das opções de investimento mais voláteis.
Este fenómeno da quebra artificial dos preços está a ser alimentado pela componente subjetiva dos negócios e também pela necessidade de muitas empresas do sector em fazer movimentar o mercado e, por esta via, gerar liquidez necessária à própria sobrevivência. Esta é, no entanto, uma solução que poderá transformar-se, a curto prazo, no carrasco do sector.
Esta estratégia comercial que classifico de desastrosa, mesmo que possa parecer estar a garantir o rápido escoamento dos ativos imobiliários indesejáveis que a banca portuguesa tem vindo a acumular, tem, como pior efeito colateral, o perigo da própria implosão do mercado, num cenário no cenário da comprovada retração da construção de novo.
A regularização do mercado – à luz, entre outras, da ainda válida lei da oferta e da procura – implicará um compasso de espera da construção do novo (desejavelmente compensado pelo incremento da reabilitação urbana), mas não, como alguns fazem crer, esta ânsia de vender a qualquer preço, fazendo baixar o preço do que se quer vender e, indiretamente, de todo o património construído.
Com o perigo, se este fenómeno continuar, de nos precipitarmos a vender, muito provavelmente só a quem espreita, porque pode esperar, uma oportunidade destas, a preços que roçam o dumping e sem cuidarmos do ritmo da procura normal, o mais moderno produto imobiliário, sem continuidade a curto prazo.
Luís Lima
Presidente da APEMIP e da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 24 de novembro de 2012 no Jornal de Notícias