Ninguém, com rosto, nem a banca portuguesa, beneficiará da desvalorização do património construído. Vender casas a preços low cost, muitas vezes por valores inferiores aos da própria construção, não é um fenómeno que faça aumentar as vendas à semelhança do que acontece com os produtos para exportação quando era possível desvalorizar a moeda tornando-os assim mais baratos no exterior.
A tentação da subavaliação do património imobiliário com vista às grandes transações imobiliárias, em tempo de crise, não é solução para ninguém nem para as instituições que foram apanhadas desprevenidas com o fenómeno do aumento das dações de imóveis como pagamento de obrigações vencidas. Isto não inverterá a diminuição da procura, muito menos num país onde mais de 75% das famílias vivem em casa própria.
Neste cenário social, muitos dos potenciais interessados nas casas que se oferecem como sendo muito baratas precisam de vender as casas que habitam atualmente e não estão interessados em fazê-lo a preços de saldo nem sequer considerando que pretendem beneficiar de preços igualmente muito em conta na compra seguinte. Não há dois mercados – um mais em conta, onde compramos, e outro, mais justo, onde vendemos.
Esta variada apreciação de um bem é muito clássica no imobiliário. Enquanto o valor médio da avaliação bancária dos imóveis tem tendência, no momento atual, para descer, a avaliação fiscal do mesmo imóvel tende a subir. Apesar de não haver qualquer sobrevalorização anterior dos preços, no mercado imobiliário português, ao contrário do que aconteceu em países como a Espanha ou a Irlanda para citar só exemplos europeus.
Quando digo – e tenho dito repetidamente – que esta desvalorização forçada não é inocente e beneficia interesses externos interessados em investir no nosso imobiliário em situação muito vantajosa, não falta quem me acuse de ver teorias da conspiração, mesmo sabendo que uma tal tendência só acentuará o empobrecimento de Portugal e dos portugueses, nomeadamente naqueles que apostaram todas as suas poupanças na casa própria.
O mercado imobiliário português já oferece a preços únicos e muito competitivos casas solarengas e quintas de sonho em regiões de sonho, imóveis centenários em centros históricas de grandes cidades, como Lisboa e como o Porto, já reabilitados ou preparados para a reabilitação, e uma costa de 700 quilómetros de praias para todos os gostos e preferências climatéricas e para os desportos náuticos mais mediáticos.
Como disse recentemente em Paris, num Salão do Imobiliário, sobram as razões para investir no imobiliário português, uma opção que interessa a Portugal mas que é também um refúgio seguro, inesperadamente único e de uma dimensão impar, nos diversos planos da geografia, que a Europa nem sabe que possui. Esta oferta é já suficientemente competitiva para que deixemos que promovam a sua desvalorização artificial e injustificada.
Acresce que no contexto da crise financeira mundial, os investidores mais prudentes que temem as oscilações e incertezas de investimentos mais voláteis, como foram todas aqueles que se centraram no próprio sistema financeiro, veem nos mercados imobiliários estabilizados e não especulativos como é o nosso um porto de abrigo seguro, É assim que devemos promover a riqueza que temos no nosso património construído.
Luís Lima
Presidente da APEMIP e da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 10 de dezembro de 2012 no Jornal i