Há um velho ditado português que diz que só ficamos satisfeitos quando há, ao mesmo tempo, sol na eira e chuva no nabal, condições meteorológicas impossíveis que, no entanto, estamos sempre a reclamar, às vezes de forma tão indisfarçada como o exemplo citado no dito popular.
Querer sol na eira e chuva no nabal é, por exemplo, querer vender por muito bom preço, talvez mesmo um pouco acima do preço justo, e querer comprar depois mais e mais barato, aguardando uma possível, sonhada e específica quebra dos preços na esperança da pechincha que cada um julga existir à espera dele.
Isto está a ocorrer no mercado imobiliário com notórios perigos para o mercado e para a Economia portuguesa. Estamos a promover – e bem – o nosso imobiliário, oferecendo-o ao estrangeiro, como um investimento seguro numa relação preço qualidade boa, sem qualquer desvalorização, e, ao mesmo tempo, hesitamos quando queremos comprar para nós, aguardando (im)provável quebra de preço.
A nossa credibilidade externa como oferta neste mercado fundamental para a recuperação económica do país fica bastante diminuída com esta dualidade de critérios e, paralelamente, o próprio mercado estagna, internamente, registando menos movimento nessa tendência para esperar uma melhor maré quando a maré já é boa.
Como tenho vindo a dizer repetidamente, sobram razões para investir no imobiliário português e este investimento é uma opção que interessa a Portugal mas também a quem investe por estar a fazê-lo num refúgio seguro e numa oferta já suficientemente competitiva para que deixemos que promovam a sua desvalorização artificial e injustificada.
Pior ainda, para que sejamos nós próprios, pelo nosso comportamento, às vezes a tocar as raias da ganância, a provocar ou, no mínimo, a desejar, essa mesma desvalorização que só queremos que existe no momento em que vamos comprar. Como quem reclama um microclima à medida, sabendo, como devemos saber que não há microclimas assim. Nem nos sonhos.
Quando queremos ter sol na eira e chuva no nabal, ao mesmo tempo, estamos a criar condições para que nem chova no nabal nem faça sol na eira. Bem vistas as coisas, este ditado popular que me serviu de mote para esta reflexão sobre hesitações e outros comportamentos da oferta e da procura no mercado imobiliário português podia reduzir-se a um outro anexim não menos certo – quem tudo quer tudo perde.
Luís Lima
Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luislima@apemip.pt
Publicado no dia 21 de dezembro de 2012 no Sol