Já se sabia que, mais cedo ou mais tarde, o consumo de cimento em Portugal teria de baixar, mesmo sem crise, pois o país não podia ser totalmente cimentado, mas verificar que estamos hoje, em 2013, de acordo com os números de 2012, aos níveis dos primeiros anos da década de 70 do século passado é preocupante quando a reabilitação do construído está praticamente toda por fazer.

A quebra da venda de cimento, um dos índices para avaliar a atividade da construção, tem vindo a verificar-se ininterruptamente desde 2008, o malfadado ano da falência da Lehman Brothers.  Em 2008 quebrou 6,6% face a 2007, em 2009 a quebra face ao ano anterior foi de 15,6%, no ano seguinte de 6,9 pontos percentuais, em 2011 igualou o valor então recorde de 2009 (15,6%) e em 2012 disparou para os 37,2%.

As toneladas de cimento vendidas em 2011 (foram registradas 4,548 milhões de toneladas nesse anos) colocou o país, nesta matéria, ao nível de 1977. A quebra verificada em 2012, a mais acentuada dos últimos anos, coloca-nos seguramente no patamar de consumo que se verificava antes de 1974, quando a Economia de Portugal estava praticamente fechada e sem perspetivas.

Em Espanha, mesmo num cenário de bolha imobiliária que não se verificou nem verifica em Portugal, a quebra do consumo de cimento era e é acentuada, mas os valores de consumo nunca deixaram de indicar uma atividade mínima a garantir, pelo menos, a manutenção da riqueza construída que sempre carece de obras, pequenas ou grandes, de reabilitação.

Entre nós, as perspetivas apontam para o pior sentido. Para deixar cair totalmente um setor que já representou quase 20% do Produto Interno Bruto (PIB), que assegurava uma fatia muito significativa do emprego, incluindo de emprego de formação estreita que ocupava profissionais que dificilmente poderão mudar de arte.

Portugal que descura há décadas o património construído, público e privado, apresentando um dos mais baixos níveis no que toca à Reabilitação, Portugal a continuar por este caminho corre sérios riscos de perder mais um comboio europeu muito significativo que é, precisamente, o da agenda 2020, centrada na reabilitação das cidades com preocupações de sustentabilidade, ambientais e de prevenção dos riscos sísmicos. 

Só países estupidamente muito ricos podem dar-se ao luxo de descurar assim o património construído.

Luís Lima
Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP – 
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luis.lima@apemip.pt

Publicado dia 08 de fevereiro de 2013 no Diário de Notícias

Translate »