As condições que estão a ser anunciadas para rescisões amigáveis de contrato na RTP, com pagamentos de 1,35 do salário do mês por cada ano de serviço, até um máximo de 150 mil euros, contrastam fortemente com o que está a ser negociado em sede de concertação social para situações idênticas noutras empresas, nomeadamente no sector privado.
Não é fácil, em sector algum, prescindir do serviço de alguém, nem é fácil chegar a um acordo (que a situação de aperto que o país vive exige seja muito moderado) entre associações empresariais e sindicatos quando, com dinheiros de todos nós, há indemnizações muito mais elevadas numa empresa que emprega gente que aufere ordenados muito acima da média.
A RTP como empresa do serviço público de radiotelevisão tem uma visibilidade enorme e constitui, seguramente, um exemplo que servirá de comparação, no caso em apreço, relativamente a muitas outras empresas que também precisam de diminuir os encargos com o pessoal, que nunca pagaram ordenados da grandeza dos que são pagos nas televisões e que não estão dispostas a suportar os valores vindos a público para a operação de emagrecimento da RTP.
O tema não é cómodo, muito menos para um dirigente de uma associação empresarial que assume, por formação, sensibilidade social para enquadrar estas questões, mas esta incomodidade não pode impedir-nos de equacionar estas contradições fraturantes num país que vive tempos de aperto e onde, no mínimo, os sacrifícios devem ser assumidos por todos de forma semelhante.
Um direito que nos assiste quando a discriminação pela positiva é coberta com o dinheiro de todos nós.
Luís Lima
Presidente da APEMIP e da CIMLOP –
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luis.lima@apemip.pt
Publicado do dia 25 de março no Jornal i