Há dias, ouvi numa das estações de rádio que me fazem companhia no carro, julgo que naquela que se propõe levar-nos também ao fim do mundo, um desabafo, em direto, de um empresário português a dizer que só quem não estiver no seu perfeito juízo é que está disposto a investir em Portugal.
Na verdade, ele utilizou outras expressões, mais expressivas, próprias da veemência das emissões em direto, mas no essencial queria relevar uma ausência total de qualquer incentivo ao investimento dos portugueses em Portugal e nem sequer estava a relevar o fato do preço do dinheiro que está disponível para as empresas ser o mais caro da União Europeia.
Aquele direto do empresário português que teve alguns minutos de tempo de antena, num desabafo que mais parecia o eco das preocupações que vou ouvindo a muitos empresários e que eu próprio, como empresário, equaciono, fez-me recordar que Portugal aprovou recentemente legislação que favorece a permanência, entre nós, de quem queira apostar e investir no nosso país.
Esta nova legislação (aprovada no passado mês de outubro), como então aplaudi, facilita a aquisição por parte de investidores de países terceiros, não residentes na União Europeia, da autorização de residência, oferecendo, cumulativamente, algumas facilidades fiscais, que incluem isenções, durante algum período de tempo.
Que contraste com os não incentivos ao investimento dos empresários portugueses em Portugal, seja pela via do reforço dos investimentos já efetuados seja pela via de novas apostas com investimentos em áreas de negócio novas. Até parece que queremos atrair empresários estrangeiros, o que é muito positivo, mas queremos afugentar os nossos próprios empresários, o que é inqualificavelmente negativo.
Como se alguma força muito poderosa, daquelas que só reconhecemos no domínio da ficção, estivesse empenhada em substituir uma população inteira, fazendo com que os naturais desistissem e partissem, deixando um vazio que seria, paulatinamente, preenchido por gente de fora, numa espécie de repovoamento empresarial impossível de concretizar.
No exagero desta minha leitura, provocada pelo desabafo que ouvi, numa rádio portuguesa, a um empresário português, ressalta, como que numa caricatura, um generalizado sentimento de pessimismo e desânimo que vai alastrando como uma terrível epidemia, quase uma peste medieval, numa conjugação que favorece o naufrágio e impede a sobrevivência e a recuperação.
Já em tempos escrevi que ter condições para iniciar, rapidamente, a recuperação do país, numa convalescença segura e visível, interna e externamente, é a pedra de toque do nosso futuro, um futuro incompatível com a ausência de um financiamento mínimo de Economias como a nossa, por parte dos sistemas financeiros que orçamentos públicos de muitos Estados recentemente salvaram ou foram obrigados a salvar.
Há justificação para o crescimento do desânimo dos empresários portugueses, como o que ouvi na radio e serviu de mote a esta reflexão, situação tanto mais preocupante quanto a recuperação não se fará sem empresários e muito menos contra eles.
Luís Lima
Presidente da CIIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 26 de Abril de 2013 no Sol