A Europa tem uma enorme bota para descalçar e não é aquela que vemos quando olhamos para o mapa da Itália. Por ironia, é precisamente a Itália, que sempre olhamos como um país de governos ingovernáveis, o Estado Europeu que ensaia uma governação abrangente, da Direita à Esquerda, numa ampla coligação empenhada  na imediata recuperação da Economia europeia e, por inerência, na adopção de políticas claramente voltadas para o crescimento.

Esta é que é a bota que a Europa, toda a União Europeia e não apenas a chamada Europa do Sul, tem de descalçar, sob pena de ocorrerem colapsos generalizados com grandes economias a necessitarem de apoio externo numa devastadora bola de neve a que nem uma potencia como a Alemanha escaparia, mesmo julgando-se uma ilha no centro do Velho Continente, rodeada de arame farpado ou um bunker gigante sem sol nem mar.

As declaradas intenções do novo primeiro ministro italiano a favor de uma agenda europeia para o crescimento, um político do centro esquerda que se propõe liderar um governo que inclui gente de quase todos os quadrantes e que blindou as Finanças e a Economia nomeando para estas pastas um respeitado e respeitável banqueiro como Fabrizio Saccomanni, as declaradas e ousadas intenções do novo governo de Roma parecem estar a cair bem nos investidores e, por arrastro, nos mercados.

A imprensa especializada nestas sensibilidades fala no bom acolhimento internacional do recém empossado governo italiano, bom acolhimento visível na quebra dos custos dos empréstimos referenciais para Itália, o que, nos tempos que correm, é um autêntico termómetro para se avaliar da boa ou da má situação do estado dos Estados. A Itália com este quase novo compromesso storico a fazer lembrar os entendimentos entre Enrico Berlinguer e Aldo Moro, de há 40 anos, volta a ensaiar soluções políticas que a grave situação vivida na Europa exigirá. Esperemos que o desfecho seja diferente do ocorrido em 1978.

A agência de classificação de risco Moody’s, no seu permanente papel de coro agoirento das tragédias gregas, tem vindo a advertir que o cenário económico e político continua complexo e que a Itália, a viver uma recessão pelo segundo ano consecutivo e com uma elevadíssima dívida pública, ainda pode precisar de um resgate. Mais uma razão para tornar eficaz esse compromisso histórico e para forçar uma generalizada agenda de crescimento.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

 

Publicado no dia 03 de maio de 2013 no Diário de Notícias

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