A evidência da nossa realidade começa a impor-se até junto das agências de notação financeira, como por exemplo a Standard & Poor’s que agora diz que Portugal, ao contrário de Espanha e Irlanda, não tem uma oferta excessiva de casas, devido ao fraco desempenho económico e a décadas de controlo das rendas.

Embora ainda diga que poderá haver uma queda de preços, que situa num máximo de 1,5%, a Standard & Poor’s aponta o ano de 2014 como o da estabilidade do nosso mercado imobiliário que, referem, apresenta, perspetivas menos negativas do que as dos mercados espanhol e irlandês.

Esta agência de notação financeira diz agora que os preços das casas em Portugal não registam aumentos significativos desde a década de 90 comparando os preços das prestações para aquisição de casa própria com os preços das rendas de casas, que estão, dizem, agora 12% abaixo da média histórica.

É no entanto sinistramente significativo que a Standard & Poor’s refira a queda acentuada e a um ritmo mais rápido do que o inicialmente previsto, desde 2011, do rendimento disponível das famílias portuguesas realidade que contribuirá para pressionar em baixa os preços das casas.

O que a Standard & Poor’s está a dizer com os eufemismos próprios das linguagens cifradas das agências de notação é que não houve bolha imobiliária em Portugal, ao contrário do que muita gente quis fazer crer com a conivência de quem deixou, sem oposição, que essas mentiras fizessem caminho.

Embora sem justificação, que não a de forçar o empobrecimento de Portugal e dos portugueses, muita dessa gente forçou artificialmente a quebra dos preços, apenas para os adaptar à capacidade, entretanto muito diminuída, da oferta, como se os preços das casas, num cenário onde não se verificou qualquer bolha, pudessem ser fixados como os preços do hambúrguer Big Mac que são indexados ao poder de compra de cada país.

A cartilha das agências de notação é comum e conhecida. Também não é a primeira vez que torno pública a minha opinião no sentido de contrariar visões distorcidas da realidade do nosso mercado imobiliário, seja no que toca aos preços seja no que toca a um suposto excesso de imóveis devolutos, que já serviu de pretexto para uma ladainha contra Portugal por parte de uma dessas agências, no caso a Fitch.

A Fitch – recorde-se – é a agência que atribui “ratings” às obrigações sobre crédito hipotecário que são emitidas pelos bancos, o que deveria implicar um conhecimento mais rigoroso e aprofundado do mercado imobiliário português que não se verificou, por exemplo, quando, há tempos, inflacionou o número de dações de imóveis em Portugal, ignorando a clara tendência para a diminuição deste valor quando ela já era visível.

Os desfasamentos nas informações, mesmo que sejam involuntários como devo e quero acreditar, criam pressões inaceitáveis e artificiais que, no caso, refletem-se negativamente na riqueza de Portugal e dos portugueses como que a forçar a dor e o empobrecimento que um ex-primeiro ministro Irlandês, John Bruton, recentemente de passagem pelo Estoril, onde proferiu uma conferência sobre a nossa realidade, nos vaticinou.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 06 de maio de 2013 no Jornal i

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