Em Portugal é possível comprar um imóvel urbano por menos de cem mil euros. A média das transações de imóveis urbanos efectuadas em 2011, entre nós, foi, aliás, inferior a este valor. Mas este tecto é baixo, tão baixo que nem chega para garantir a um investidor estrangeiro o visto automático de residência como prémio pelo investimento no nosso imobiliário.

Mas, pelo menos para já, não está previsto que a propriedade imobiliária, custe cem mil euros ou custe mais, possa vir a ser confiscada. Está a ser penalizada fiscalmente, pelo Poder Central e por alguns municípios, mas ainda não corre os riscos dos depósitos bancários acima dos cem mil euros, na interpretação extrema da resposta que a Comissão Europeia deu a um eurodeputado português.

O dinheiro acima dos cem mil euros que está depositado na banca não é, necessariamente, dinheiro abençoado.

Parafraseando o ministro Vitor Gaspar, em declarações publicas prestadas em Bruxelas, “a garantia de depósitos abaixo dos 100 mil euros é “sacrossanta”. O ministro disse, de forma pausada e clara, que sacrossanta foi a palavra usada. Para já, o património imobiliário português está ao abrigo destas vicissitudes.

Todas estas reflexões, tornadas públicas não se sabe bem a propósito de quê, sabendo-se apenas que são sequelas das inesperadas e polémicas soluções para o resgate da banca da República do Chipre, todas estas reflexões não ajudam nada ao clima de confiança que as Economias precisam em épocas de crise e menos ajudam à própria normalidade do mundo da finança, sobre o qual já pairam desconfianças que cheguem.

Eu confio na banca e espero que em Portugal haja condições para que o sistema financeiro possa financiar, adequadamente e com os cuidados necessários, a nossa Economia, contribuindo para uma retoma obrigatoriamente assente na criação de emprego e de mais riqueza. Mas esta vocação da banca tornar-se-á uma missão quase impossível se a própria banca continuar a viver sob a ameaça da espada de Damocles.

Enquanto isto, só posso dizer, que uma casa portuguesa de valor superior a cem mil euros ainda é “sacrossanta”.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa.  
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 25 de maio de 2013 no Jornal de Notícias

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