Há, em Lisboa, um lugar onde é possível fazer uma viagem no tempo da cidade capital, desde a fundação aos nossos dias, num fascinante passeio pelas memórias da cidade proporcionado por poderosos equipamentos interativos e programas informáticos capazes de recriar realidades virtuais de grande impacto.
Este lugar, o Lisboa Story Centre, situa-se no Terreiro do Paço, nome do tempo da Monarquia que a Praça do Comércio, uma das mais belas do Mundo, ainda mantém, e leva-nos a atravessar alguns séculos de história, incluindo o trágico momento do terramoto de 1755, em apenas 60 minutos.
Na memória descritiva deste espaço aberto ao público, diz-se que o percurso da visita contempla, entre outros aspetos, a memória de Lisboa como cidade global, uma cidade que foi ao mesmo tempo cosmopolita e armazém do Mundo, ou o planeamento da Cidade Moderna após o terramoto com a chamada reconstrução pombalina.
Não se descobre ainda, nessa projeção virtual, a Avenida da Liberdade, o chamado “Passeio Público” da cidade, no século XIX, onde as pessoas de bem e principalmente as pessoas de bens se cruzavam pela grande e bem rasgada avenida, hoje conhecida pelas suas lojas de grandes marcas, uma das dez mais famosas do Mundo.
É aqui, nesta Avenida da Liberdade, que se concentram as grandes marcas internacionais, nomeadamente no domínio da moda. A grande avenida, que liga a Praça do Marquês aos Restauradores, é também ela um verdadeiro passeio no tempo, a céu aberto, onde ainda é possível viajar por diversas épocas, de forma real.
Na Avenida, enquadrada por património imobiliário onde se escreve muita história, ainda coexistem imóveis que esperam uma segunda oportunidade pela Reabilitação Urbana com imóveis que já se mostram no esplendor dessa mesma Reabilitação ou em fase de acabamentos, como podemos ver dois exemplos bem visíveis e bem orgulhosos da sua nova condição, quando a Avenida é atravessada pela Rua de Alexandre Herculano.
Como ainda há dias escrevi neste espaço, referindo-me a outros aspetos da cidade, às vezes, na pressa e no laconismo com que comunicamos, em sintonia com a forma quase mecânica como vivemos os lugares onde passamos, não temos tempo nem espaço para olharmos o nosso habitat com olhos de ver e para ver como pela reabilitação as cidades que mais gostamos ficam, subitamente, mais bonitas.
Lisboa pode ser, neste aspeto, uma verdadeira paixão, sem deixar de ser um desafio e uma oportunidade, neste quadro de crise financeira mundial. Chamemos-lhe reabilitação urbana, preferencialmente com regeneração urbana, conscientes que uma cidade com um centro histórico reabilitado e habitado, com a vida própria do dia e com a vida própria do entardecer e da noite, é uma cidade que acolhe cidadãos seguramente mais disponíveis para a tarefa coletiva de fazer renascer a nossa Economia, começando pela nossa autoestima, como há pouco tempo tive oportunidade de dizer à senhora Ministra do Ordenamento do Território.
Publicado no dia 03 de Julho de 2013 no Público