Uma atitude de algumas senhoras casadas de uma certa aristocracia que esperam que o marido não lhes seja infiel, que se porventura o for elas não fiquem a saber que tal aconteceu ou que, finalmente, sabendo não se importem que tal ocorra, essa atitude não se aplica à política. Neste campo não há infidelidades e aquilo que, às vezes, somos tentados a confundir como tal, quando e se ocorre, são posições assumidas para serem tornadas públicas. O grande risco, comum ao das infidelidades conjugais, é o da quebra de confiança que elas podem gerar na relação.
Numa relação política, importa preservar a confiança de terceiros, nomeadamente a confiança dos investidores, internos e externos, e, no caso concreto de Portugal, com uma dívida pública elevada e com dificuldade de financiamento, a confiança dos mercados onde se compra e vende títulos de dívida. Não direi que a confiança em Portugal tenha de ser tão elevada que haja quem esteja disposto a pagar para nos emprestar dinheiro, como há quem o faça à Alemanha, pagando assim a garantia de um empréstimo considerado à prova de bala.
Portugal não precisa de gerar uma confiança tão fundamentalista, mas também não pode trair as expectativas que, direta ou indiretamente, foram sendo criadas nas avaliações serenas, mesmo quando críticas, da nossa evolução económica à luz do tratamento de choque a que se submeteu, ignorando quer os efeitos positivos desse mesmo tratamento de choque quer os efeitos negativos e contraproducentes de um prolongado e perigoso por excessivo tratamento tão radical. É evidente para todos que, no centro da tempestade política da semana passada está este confronto de soluções para a nossa crise.
O mais grave de qualquer crise política de contornos semelhantes à que deflagrou na semana passada é, para os mercados, mercado imobiliário incluído, a falta de confiança que a situação gera, uma desconfiança que corre o risco de alastrar até ao descrédito nas instituições. Não é preciso ser Prémio Nobel da Economia para perceber que este ambiente é mau para o funcionamento normal dos mercados saudáveis.
No mínimo, agrava-se a perigosa tendência para a estagnação, com a retração dos investidores e até com o adiamento de decisões que contribuiriam para fazer movimentar mercados (como comprar um pequeno apartamento para sair de casa dos pais, entre outras), na compreensível espera de quem não quer arriscar com medo do que o futuro possa ser ainda pior. Neste cenário, a Economia do país em vez de recuperar afunda-se. Sei, por dever de dirigente do movimento associativo empresarial, que há governantes conscientes destes perigos.
Lembro-me que quando o atual governo assumiu funções e eu conheci a Drª Assunção Cristas, a ministra da tutela do sector da Construção e do Imobiliário, por quem fui adquirindo enorme consideração e respeito, ouvi a própria ministra reconhecer que há problemas que mereciam soluções mais céleres mas que estas nem sempre são adotadas por não dependerem exclusivamente de quem governa. Continuo a acreditar que também é assim.
Luis Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 10 de Julho de 2013 no Público