Cicatrizes sociais da crise é a expressão forte que Angel Gurría, secretário-geral da OCDE, escolheu, em Paris, para retratar a situação que as populações dos países europeus em dificuldade enfrentam no atual contexto. Há ligeiras, visíveis e esperançosas melhorias que apontam para a sobrevivência mas não sairemos da crise sem profundas cicatrizes.

 “As cicatrizes sociais da crise estão longe de estar saradas”, disse Gurría, citando entre as mais graves, segundo a Imprensa, “o elevado e persistente desemprego, particularmente nos mais jovens”, um flagelo que, em Portugal, já atingiu os 40%. Globalmente, entre nós, o desemprego vai subir até aos 18,6% no próximo ano, antes de começar a descer.

Sabe-se, uns academicamente outros na pele, que o desemprego pode andar em contra ciclo com a recuperação económica, o que não é consolo para quem está desempregado e lê uma reflexão, como esta, onde, também justificadamente, considera-se que podemos registar alguns sinais positivos, mesmo nesta adversidade quase crónica.

A leitura dos números do Banco de Portugal pode ser feita pelo ângulo de quem olha para um copo meio cheio ou pelo ângulo de quem o vê meio vazio. A recessão para 2013 poderá ser menos grave do que anunciavam as anteriores piores previsões (desce de 2,3% para 2%) mas o crescimento para 2014 também desce, de 1,1 para 0,3%.

O investimento em Portugal desceu nos últimos quatro anos 40%, o rendimento das famílias idem idem aspas, tudo isto em projeções que parecem não ter incorporado os cortes suplementares na despesa do Estado de 4 mil e 700 milhões de euros, para os próximos dois anos, com todas as consequências no mercado interno, isto, na população residente.

A crise, como certas doenças graves que no início da respetiva identificação pareciam irremediavelmente fatais, já não será assim tão definitivamente mortal, tornando-se, como muitas dessas doenças, crónica e relativamente suportável desde que se apliquem, permanentemente, os tratamentos adequados.

A questão é sempre e tão só a de se saber acertar na dose e no remédio certos, percebendo-se que o doente não aguentará experiências de duvidosos resultados nem muito menos placebos, como às vezes parece ser o que estamos realmente a ensaiar. Sem prejuízo de um otimismo q.b. para manter a autoestima e a esperança.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
Presidente@cimlop.com

Publicado no dia 20 de Julho de 2013 no Jornal de Notícias

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