Nem oito nem oitenta. Mais errado do que assentar uma Economia num sector, como o do imobiliário, que nos últimos 20 anos do século passado teve, entre nós, de recuperar atrasos de décadas relativamente ao resto da Europa Ocidental, é, de repente deixar pura e simplesmente de olhar para esta fileira votando-a ao mais puro dos ostracismos.
O sector imobiliário português não é, entre nós, a mãe de todos os males nem a mãe desta crise que, entre outros efeitos colaterais adversos, tem tido como consequência grave, a de provocar a falta de lucidez em muito boa gente, até mesmo em gente que jamais julgávamos poder ver numa tal situação de fragilidade.
Deixar cair o património construído, descurando, na prática, todos os projetos de Reabilitação Urbana, é atitude que nem os países mais ricos aceitam, quanto mais países, como o nosso, que atravessam dificuldades no que toca ao financiamento e no que toda à dinamização da própria Economia, duas realidades que estão muito ligadas entre si.
Reabilitar os centros históricos das nossas principais cidades é uma missão urgente e histórica que recuperará emprego em sectores da população mais vulneráveis por terem uma formação simples e muito estreita e uma idade difícil para adquirir novas competências, além de ser uma alavanca para o turismo e para a qualidade de vida das populações.
O imobiliário português continua hoje a poder contribuir para o crescimento da Economia tal como o fez no final do século passado por razões historicamente identificadas e compreensíveis que agora, na hora dos ajustes de contas das opções económicas, não podem ser ignoradas e esquecidas em nome de uma condenação mais fácil.
É contra este facilitismo cego, que prefere transformar o sector imobiliário num bode expiatório em vez de o valorizar, com naturalidade, e de o mostrar como ele realmente é em Portugal, ou seja, como um refúgio seguro para muitos investimentos e poupanças, que tenho canalizado as minhas reflexões públicas sobre o sector.
Não é fácil sensibilizar poderes públicos e até o público para a bondade da valorização do nosso património construído. As forças que remam em sentido contrário, interna e externamente, são muitas e muito poderosas, o que obriga a que se promovam sinergias capazes de alavancar esta promoção urgente de uma riqueza que deve ser defendida ao invés de desvalorizada.
Esta tarefa, que tem de ser desenvolvida interna e externamente, implica um mínimo de organização formal que ganhe, pelo trabalho a desenvolver, legitimidade acrescida para transformar o imobiliário numa verdadeira frente para o crescimento da nossa Economia.
Reconheço também que é uma tarefa que deve obrigar-nos a todos, incluindo as empresas e o movimento associativo empresarial, preferencialmente de forma eficaz, profissional e organizada. É uma tarefa que nos toca a todos e à qual não podemos voltar costas. O país precisa desta vontade.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 24 de Julho de 2013 no Público