Temos andado por cá numa série de reconsiderações que se encadeiam umas atrás das outras, experimentando aqui, tentando acertar ali, avaliando erros cometidos, prometendo novas soluções, outros caminhos, a luz ao fundo do túnel, muitas vezes esquecendo que já prometemos, em vão, a própria lua. Mas temos, todos nós, de sermos lúcidos ao ponto de sabermos que sem vantagens mínimas no plano social para a maioria da população não há consciência cívica que resista.
Não podemos, de ânimo leve, dizer que, afinal, aquelas condições de vida que prometemos a todos nós e que, modestamente, classificávamos de estilo de vida da classe média, algo parecido com o conhecido american way of life (estilo de vida americano), já não são exequíveis como tínhamos prometido e muito menos inegociáveis como decretaram alguns presidentes dos Estados Unidos da América em defesa da população norte-americana.
No contexto difícil em que vivemos, com a nossa classe média (dita o cimento dos estados modernos em que nos habituamos a viver) a sofrer fortes vicissitudes e a retardar, pela ameaça de colapso do mercado interno, a urgente e inadiável recuperação da nossa Economia, não haverá muitas mais novas oportunidades a conceder a quem assumiu a responsabilidade de nos conduzir de volta à nossa portuguesa maneira de estar na vida, com regras e algum conforto social.
Talvez esta mais recente sucessão encadeada de insucessos possa obrigar-nos a reconsiderar como, com quem e a que ritmo devemos reequacionar o nosso futuro mais próximo, inevitavelmente resultante do compromissos realísticos e justos, sem vencedores nem vencidos e virados para o bem estar de todos nós, objectivo que implica, no mínimo, a criação de mais emprego e, em consequência, de criação de mais riqueza.
Se há objectivos que não podem deixar de ser alcançados, em nome do progresso e da civilidade, estes de criar condições para relançar uma Economia como a nossa, que existe para satisfazer minimamente a população aqui residente, estão na primeira linha das prioridades e são objectivos inegociáveis por muitas reconsiderações que nos obriguem a assumir nesta nossa caminhada.
É que, a principal regra dos Estados de Direito que fazem a matriz do Mundo que mais se preocupa em conciliar a liberdade com o bem estar da maioria das pessoas, continua a ser a da do primado das vantagens mínimas para todos, condição sem a qual nenhum mercado (incluindo o imobiliário) funcionará, nenhuma Economia crescerá nem nenhuma sociedade viverá com uma elevada dose de tranquilidade.
Este é, seguramente, o sentido que deve ler-se na relativa serenidade com que a nova oportunidade anunciada ao país e à Economia está a ser recebida. É talvez uma das últimas oportunidades para alcançarmos o que, em boa verdade, deve ser inegociável. Reconsiderando o que tem de ser reconsiderado reconhecendo, como o fez a presidente brasileira Dilma Rousseff perante o Papa Francisco, que tentar sair da crise só com a austeridade aumenta a crise e a instabilidade.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
Publicado no dia 29 de Julho de 2013 no Diário Económico