E se, de repente, uma das mais famosas obras de Picasso, um óleo sobre tela de dimensões transportáveis, de novo em oferta, não conseguisse encontrar quem se mostrasse interessado em adquirir aquela peça de arte única, pelo menos ao preço que tenha alcançado na transação anterior?
A obra mais famosa deste artista, a Guernica, pintada em 1937 em Paris, obra que apesar das suas invulgares dimensões (três metros e meio por quase oito metros) já residiu no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova Iorque e já foi exposta numa Bienal de S. Paulo antes de se recolher ao Museu Rainha Sofia, em Madrid, não tem preço.
Na verdade, vale milhões para a cidade de Madrid que recebe desde 1992 milhares e milhares de visitantes de todo o Mundo motivados pela vontade de ver com os próprios olhos esse retrato simbólico dos efeitos das guerras, emotivamente captado por Pablo Picasso em homenagem às vitimas da aldeia basca de Guernica, bombardeada por alemães e italianos durante a Guerra Civil de Espanha.
A “Guernica” não está à venda, mas há outras peças únicas de Picasso, de dimensões adequadas a uma mobilidade mínima, que podem ser adquiridas nas galerias de arte que as possuem. A preços que, em alguns casos, batem recordes nos mercados de Arte. Mesmo assim, um quadro de Picasso valerá milhões sempre e se houver quem esteja disponível a adquiri-lo por milhões.
E o preço dos bens imobiliários? Do património imobiliário construído e da própria terra onde, com maior ou menor dificuldade, é possível construir ou reconstruir um edificado? Valorizar-se-á como uma peça de arte, mesmo e se puder ser considerado uma peça única, numa localização privilegiada?
A questão da liquidez dos bens imobiliários é hoje uma questão central dos mercados imobiliários. Quem é que hoje investe num terreno ou num bem imobiliário edificado se desconfiar que no momento seguinte ao da aquisição dificilmente conseguirá voltar a oferecê-lo no mercado pelo mesmo preço?
A garantia da manutenção e ou da eventual valorização dos bens imobiliários não será problema irresolúvel mas depende da conjugação de vários vetores e consequentemente de várias vontades, cujo encontro é tanto mais urgente quanto urgente é, por exemplo, descobrir uma saída para o edifício do Pavilhão de Portugal no Parque das Nações, peça única a degradar-se apesar de ser uma maravilha da arquitetura e da engenharia portuguesas numa localização ímpar.
Afinal, já não basta sentenciar, como se sentenciava antigamente, com um tão popular “diz-me o que tens e onde”. É em momentos como o que vivemos que mais facilmente compreendemos a importância dos registos e dos cadastros prediais eficientes, a indispensabilidade das soluções urbanísticas integrais, a necessidade dos financiamentos sustentáveis, o rigor das avaliações imobiliárias equilibradas ou a justeza de uma fiscalidade realista.
Embora possa parecer que não, este deveria ser um dos temas centrais do debate público que decorre no momento atual à volta das eleições para as autarquias locais.
Luís Lima
Presidenta da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 09 de Setembro de 2013 no Diário Económico