É quase assim. A nova estratégia comercial do Altamira Santander para a carteira de imóveis que possui em Espanha é quase a estratégia de alguns prestadores de serviços que em vez de fazerem um preço dizem que o preço é o que os clientes queiram dar, na secreta convicção que a maioria dos clientes serão, neste cenário, muito mais generosos.
Este banco desafia os clientes a fazerem o preço para qualquer das casas que possui em stock, como ativo indesejável, e caso aceite a proposta do potencial interessado, concede um crédito a cem por cento por 40 anos, oferecendo o primeiro ano como ano de carência, isto é, sem a obrigação de começar logo a pagar prestações e juros.
Agora é caso para se dizer que de Espanha nem bom vento, nem bom casamento nem bom exemplo de estratégia comercial. Vender casas em saldo, como quem vende em saldo cobertores de lã no pino de um Verão escaldante não é solução para nenhuma economia, nem mesmo para quem compra muito barato ou para quem julga estar a solucionar o problema dos ativos indesejáveis.
Admite-se que seja possível adquirir uma propriedade imobiliária a um preço muito abaixo do preço do mercado, mas a verdade é que esta prática generalizada levará à desvalorização forçada de todo o património imobiliário, o que é desastroso, mesmo em Espanha onde houve uma bolha imobiliária, desastre que se transformaria numa tragédia se o exemplo nos contaminasse.
Vender, com maior ou menor imaginação, património imobiliário a saldos de fim de estação não gera o desejado escoamento dos ativos imobiliários indesejáveis, como são os que se acumulam em bancos, antes favorece um ciclo vicioso onde por cada imóvel recolocado haverá muitos mais recebidos na voragem de um mercado que se desregula artificialmente.
Acresce que a exclusividade para os imóveis da banca das ofertas de financiamento em condições razoáveis é outro vector negativo. Não havendo mercado, por falta de financiamento, para os demais imóveis em oferta o resultado é evidente – uma brutal desregulação do mercado a provocar espirais de insucessos e com elas mais e mais ativos indesejáveis.
Como aliás já sublinhei em muitas outras ocasiões, o mercado imobiliário português que teve e quer continuar a ter um papel dinamizador da Economia e que soube, por múltiplas razões, evitar uma bolha imobiliária, pode implodir de forma estrondosa se esse fenómeno da quebra artificial dos preços continuar e se chegar a extremos como os que estão a ser vistos em Espanha.
Continua a ser claro para mim que a a solução de vender ao desbarato não resolve o problema da acumulação de stocks imobiliários indesejáveis. Neste cenário, os bancos recolocarão alguns desses ativos no mercado, mas receberão muitos outros de volta e verão o próprio mercado a implodir, num aumento exponencial do crédito malparado.
Estou sinceramente esperançado que este mau exemplo de Espanha não contagie o nosso mercado. Desde logo porque Portugal não teve uma bolha imobiliária, como a ocorrida aqui ao lado, mas também pela lucidez dos nossos banqueiros, em muitas ocasiões evidenciada para bem da própria banca e principalmente da Economia Portuguesa e dos portugueses.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 23 de Setembro de 2013 no Jornal i