Entre os principais riscos que o Mundo pode enfrentar em 2014, segundo um relatório, elaborado por 700 especialistas e tornado público no Fórum Económico Mundial (FEM), a chamada cimeira de Davos, dois deles afetam de forma muito intensa Portugal – a disparidade dos rendimentos das populações, com enormes fossos na pirâmide social, e a elevadíssima taxa de desemprego.

Estes riscos, como os demais, são, para quem tem visibilidade em Davos, desafios globais que precisam de soluções também globais, o que não pode nem deve inibir os esforços específicos das Nações para encontrar soluções concretas para as respectivas populações. Davos não alimenta quem saliva por histórias de fracos e oprimidos e se fala nestas questões é porque elas são reais e constituem riscos que devem ser tidos em conta.

Estes problemas, no Mundo globalizado em que vivemos, não afectam apenas os países mais vulneráveis, como são, por exemplo, os das periferias da Europa, em especial no Sul, mas, no seu conjunto, podem causar, e seguramente causarão, se não forem devidamente acautelados, um impacto significativo e negativo global, mesmo que mais fortemente sentido nos países onde a crise mais se sente.

Alguns dos grandes riscos não são sentidos, ou até razoavelmente reconhecidos, em Portugal. É o caso das mudanças climáticas, com eventos climáticos extremos, com catástrofes naturais e, um dos maiores a longo prazo, o da crise hídrica, com o aumento de muitas regiões a ficarem com carências de água potável. O acesso à água para fins agrícolas e para o consumo humano já causou muitas mortes, inclusive em Portugal.

Mas os riscos mais evidentes e mais sentidos entre nós, entre os assinalados no documento de Davos, são os que referem a possibilidade de ocorrência de conflitos sociais motivados pela disparidade na distribuição da riqueza produzida, riscos ainda mais potenciados pela falta de emprego, pela diminuição das receitas fiscais, pela quebra dos serviços prestados pelo Estado Social.

Não é seguramente por acaso que Mário Dragui, presidente do Banco Central Europeu acaba de defender que o pacto de estabilidade assinado por Angela Merkel e Nicolas Sarkosy deveria ser substituído por um pacto de crescimento que fosse subscrito pela França e pela Alemanhã.

A austeridade deve dar lugar ao crescimento. O afunilamento da pirâmide social que provoca, fazendo desaparecer nas economias mais frágeis a classe média e fazendo com que haja uma tendência para que 10 por cento da população tenha 90% da riqueza deixando os restantes 10% para a esmagadora maioria da população, esse enorme fosso não favorece a manutenção do sistema centrado nas economias de mercado.

Não me tenho cansado de defender um equilíbrio maior tentando travar os exageros fiscais sobre o património imobiliário, insistindo na necessidade de apostar na Reabilitação Urbana como via para recuperação de muito emprego e para o relançamento de sectores como o do Turismo residencial, criando condições para que o mercado interno não desapareça.

Como todas as árvores, as nossas exportações não crescerão até ao céu.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 29 de janeiro de 2014 no Público

Translate »