É natural que uma instituição financeira que possua imóveis em oferta no mercado imobiliário tenha a tendência para oferecer melhores condições de financiamento para a aquisição por terceiros dos imóveis próprios do que para a aquisição dos demais imóveis.
Neste cenário, que, felizmente, já foi muito mais marcado do que é agora, a propriedade do imóvel à venda também pesa na avaliação do risco do financiamento, tanto ou mais do que as próprias condições do cliente para contrair um crédito para aquisição de habitação própria.
Como se sabe, num passado não muito longínquo o financiamento para aquisição de habitação em condições razoáveis quase que se esgotava no chamado mercado dos imóveis da banca. A situação alterou-se e está a caminhar para o verdadeiro equilíbrio do mercado.
Favorecer a aquisição preferencial dos imóveis da banca, oferecendo condições de financiamento muito mais vantajosas do que as oferecidas para os financiamentos dos outros imóveis favorecia também, pela desregulação do mercado, o aumento das dações.
As instituições financeiras portuguesas, algumas das quais com uma significativa carteira de ativos imobiliários, foram interiorizando esta realidade e hoje o fosso existente entre os financiamentos às casas dos bancos e às outras casas diminuiu – o ideal era fazer depender o financiamento principalmente do risco do interessado.
Na linguagem dos portugueses há muito que entrou a palavra “spread”. O valor da margem de lucro de quem empresta, valor que se mede em pontos percentuais e que já muito mais elevado nos financiamentos para aquisição de casas de terceiros do que no financiamento às casas dos bancos.
A questão é que os visíveis indícios de recuperação do mercado imobiliário serão mais rapidamente consolidados com vista ao funcionamento pleno e harmoniosos do mercado se não houver no próprio mercado pedrinhas que encravem as regras que devem existir para esse equilibrado funcionamento.
E uma dessas regras fundamentais é que o financiamento da Economia se faça com prudência, é certo, mas em função do risco de quem procura tal financiamento e não de outros condicionantes conjunturais, sob pena de um retrocesso na nossa própria recuperação.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 03 de março de 2014 no Diário Económico