Sempre que falo em construção e na qualidade dos profissionais portugueses da construção civil, lembro a abóbada da Capela do Fundador, no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, mais conhecido pelo nome de Mosteiro da Batalha, um feito da “engenharia” portuguesa da época (início do século XV), obra desenhada pelo Mestre português Afonso Domingues que ainda hoje está de pé, contrariando as dúvidas levantadas aquando da inauguração.
A qualidade dos desenhos e dos cálculos que Mestre Afonso Domingues fez para a Abóbada, foram postos em causa por um mestre estrangeiro que assim conseguiu adjudicar a o projeto – o problema é que as soluções do estrangeiro falharam, a ponto da obra colapsar, acabando por ser Mestre Afonso Rodrigues a concluir a empreitada com o resultado positivo ainda hoje visível.
Como sempre refiro, somos, pelo menos desde os anos quatrocentistas do segundo milénio, reconhecidos construtores e reconstrutores de cidades, mesmo quando nos olhem, do estrangeiro, como mestres menores e incapazes de obras de qualidade como é a da Abóbada do Mosteiro da Batalha.
Neste como noutros sectores, infelizmente não são só os estrangeiros quem apouca na nossa qualidade. E se há sector que pode queixar-se desse desamor é, seguramente o da construção. Ainda há dias, num almoço com um importante empresário do ramo, revíamos as injustiças que marcam, nestes tempos, o olhar que outros sectores gostam de lançar sobre a construção.
É, sem dúvida alguma, um sector que tem estado na mira de muita gente, apesar de ainda há bem pouco tempo responder por quase 20% do nosso Produto Interno Bruto. Resistiu, tem resistido, com baixas e graças à coragem dos que aguentaram estes tempos, verdadeiros heróis que suportaram até as infâmias dos que não hesitavam em generalizar a todo o sector eventuais falhas de alguns profissionais do ramo.
Hoje está mais do que provado que o sector da construção e do imobiliário faz parte da solução para a crise que estamos a atravessar. Nomeadamente pela Reabilitação dos centros urbanos das nossas principais cidades e pela consequente dinamização do mercado de arrendamento urbano e do turismo residencial, projetos de atração para muitos investimentos estrangeiros. Também em nome da qualidade que vem de longe, pelo menos de 1401, ano da conclusão da Abóbada.
Há dias, as agendas mediáticas lembraram o compromisso para a Competitividade Sustentável do Sector da Construção e do Imobiliário assinado há um ano pelo Governo com a Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI).
Na sequência, o Ministério da Economia tornou público que uma parte significativa dos itens constantes desse documento já estão em marcha, o que é verdade, como também é verdade que algumas ainda tardam, como é o caso dos 2.800 milhões de euros do QREN para infraestruturas e investimentos de proximidade por utilizar, apoio europeu que se perderá se não for aplicado nos próximos dois anos.
Em Portugal, mesmo considerando que é necessário contenção em matéria de investimentos públicos, não está já tudo feito na área da construção e das obras públicas. Nem aqueles que, em Portugal, constroem e reconstroem o país são os maus da fita e os culpados pela crise.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 12 de março de 2014 no Público