Há dias, participando numa conferência internacional sobre Reabilitação e Construção Sustentável (que teve lugar no Porto no âmbito do 17º Congresso da Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção) tive a oportunidade de referir em público que, ao contrário de certas vozes agoirentas, o investimento estrangeiro na reabilitação urbana em Portugal deve ser acarinhado e reconhecido como uma das poucas vias possíveis para salvar o nosso património construído.

Abordei este tema com alguma diplomacia na sessão de abertura da conferência, onde também estiveram presentes o Secretário de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, Miguel Castro Neto, bom como os presidentes da Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção, Afonso Caldeira, e da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, João Vieira Lopes, e senti que estava a dar voz a um sentimento mais generalizado entre quem conhece a nossa realidade.

Não querendo desenterrar alguns pecados passados, nem muito menos generalizá-los, recordo em voz alta e por escrito que parte da reabilitação do património rural construído, incluindo algumas casas solarengas, foi conseguida, num passado relativamente recente, graças a apoios financeiros comunitários, concedidos para a promoção do Turismo Rural, embora nem toda essa reabilitação tenha acabado no destino para o qual tinha sido subsidiada.

Sem por em causa a transparência formal destes processos de reabilitação, inicialmente vocacionados para um Turismo Rural que, mais tarde, não teve a continuidade inicialmente prevista – pelas mais variadas razões, entenda-se -, a verdade é que sem aqueles apoios comunitários, por falta de capacidade financeira interna, muitas das jóias do nosso património arquitectónico rural não teriam sobrevivido nem conquistado uma segunda oportunidade como a que alguns felizmente conquistaram.

Hoje, sem aqueles apoios e sem outros apoios semelhantes, a Reabilitação Urbana de grande parte dos centros históricos das nossas principais cidades precisa de investidores estrangeiros que acreditem no potencial desse património para retornar o investimento, seja no campo do turismo residencial, seja no arrendamento urbano. Os investidores estrangeiros ganham mas o país também ganha e não pode fingir vergonha por estar supostamente a ser “vendido”, desde logo porque a propriedade imobiliária em solo nacional a favor de cidadãos estrangeiros não belisca a soberania do país.

O que realmente mais pode afectar a soberania do país é a degradação do nosso património construído, nomeadamente nos centros das nossas principais cidades, com a consequente desertificação das mesmas, a descontrolada construção de periferias e de periferias das periferias, em desenhos urbanísticos improvisados, que, por exemplo, multiplicam os movimentos pendulares das populações na deslocação casa/ trabalho, trabalho/casa, roubando, no mínimo, efectiva qualidade de vida e muitos recursos energéticos que uma boa reabilitação pouparia.

Quando promovemos o nosso imobiliário junto de potenciais investidores estrangeiros, principalmente na Reabilitação Urbana, não estamos a vender as nossas cidades nem o nosso país – estamos, pelo contrário, a contribuir para salvar as cidades e também para recuperar o país.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 04 de junho de 2014 no Público

Translate »