Na vida, o que inclui, entre outras, atividades como as da política ou empresariais, o que é realmente o que é e não aquilo que, por vezes, gostaríamos que fosse ou pensamos, por qualquer razão, que possa ser.
Por uma série de circunstâncias em que às vezes caímos – diz-se que por razões que a razão desconhece e o próprio coração também, acrescento eu – podemos acreditar que a verdade reside no que gostaríamos que fosse a verdade.
Esta contradição transpõe-se em muitas certezas das nossas comunicações a ponto de alimentar a ideia (que em alguns momentos parece funcionar e até funcionará) de que só existe vida no que consegue ter espaço e relevo na própria comunicação.
Vem isto a propósito das notícias e dos comentários que essas notícias suscitam da quebra, em Dezembro, do número de autorizações de residência para investimento, as célebres ARI também conhecidas por vistos Gold.
Diz-se que tal quebra de Dezembro, relativamente aos números de Novembro, estará diretamente com os escândalos que estão a envolver altas figuras da Administração Pública em atos suspeitos na atribuição das tais autorizações de residência.
Na sequência destas informações, é usual lembrar que a situação foi de tal ordem que o próprio Ministro da Administração Interna, à data dos fatos, Miguel Macedo sentiu necessidade de apresentar a demissão do cargo, pedido que veio a ser aceite.
Ora, todos ou praticamente todos, para salvaguardar alguma exceção, os vistos concedidos em Dezembro foram solicitados antes do conhecimento público daqueles lamentáveis e ainda não totalmente apurados fatos já referidos.
Haverá – reconheço pela percepção que tenho do mercado – alguma retração na procura do imobiliário português para investimento por parte de alguns estrangeiros, entre os quais estrangeiros, incluindo cidadãos chineses, mas os números de Dezembro ainda não podem refletir isso.
Como disse e tenho sido citado, ninguém deverá ter dúvidas de que um caso tão grave que até provocou a demissão do ministro, inevitavelmente tem consequências em muitos atos, incluindo os que se ligam a negócios, transações imobiliárias incluídas.
Graças ao chamado caso dos vistos Gold e também ao caso BES, o crescimento das transações imobiliárias em Portugal, embora significativo em 2014 pois situar-se-á entre 9 e 15%, não atingiu um valor histórico, da ordem dos 25%, como poderia ter atingido.
Sendo isto verdade, é também verdade que a prioridade das prioridades neste dossier é defender a rápida conclusão dos inquéritos em curso – para avaliarmos a verdadeira dimensão do escândalo dos vistos Gold – antes de nos deitarmos a adivinhar hipotéticas situações e, em consequência, adiantarmos propostas para solucionarmos um caso de que pouco ainda sabemos.
Às vezes, irreprimíveis tentações mediáticas que podem entrar naquela lógica das razões que a razão e até o coração desconhecem contribuem pouco, quando não nada, para o que nos deve mover – a verdade e uma atitude construtiva em torno de tudo, recuperação do mercado imobiliário incluído.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 21 de Janeiro de 2014 no Público