Em Dezembro de 2013, na sequência de um encontro que tive com representantes da “Troika”, por integrar a delegação da Comissão de Monitorização da Lei das Rendas então recebida por aqueles altos funcionários, escrevi publicamente, que os estrangeiros eram técnicos jovens sem o peso que a legitimidade política confere, mais empenhados em fazer com que a realidade confirmasse as teorias económicas em que acreditam do que em admitir a possibilidade de existirem erros nas teorias aplicadas.
Nesse artigo, apelei a que se olhasse globalmente para a realidade e se avaliasse os efeitos imediatos colaterais dos remédios aplicados, sob pena de se poder provocar situações totalmente opostas às que na verdade seriam inicialmente pretendidas. Disse também que tudo isto poderia escapar a quem tivesse uma visão limitada, meramente técnica e sem a componente da política, nomeadamente no que à capacidade de antecipar problemas de médio e longo prazo diz respeito.
Com os cuidados de quem não é comentador político, fui dizendo – cito – que os senhores da “Troika”, técnicos superiores do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e do Fundo Monetário Internacional, são uma espécie de cobradores de fraque a que associamos as mais insensíveis teses de austeridade sobre populações inteiras e totalmente indefesas.
Mais de um ano depois, há poucos dias, surpreendendo apoiantes e críticos, Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia e presidente do Eurogrupo à data das intervenções da Troika em Portugal, reconheceu que “falta legitimidade democrática” à troika e que a Europa atentou “contra a dignidade” dos países que pediram resgates.
Sem querer fazer com que caia o Carmo e a Trindade e sem comentar as reações entretanto já produzidas, vale a pena recordar o que ele disse em declarações prestadas há dias no Comité Económico e Social Europeu, em Bruxelas – “Pecámos contra a dignidade dos povos, especialmente na Grécia, em Portugal e também na Irlanda. Eu era presidente do Eurogrupo e pareço estúpido em dizer isto, mas há que retirar lições da história e não repetir os erros”.
Nestas recentes declarações, Juncker revelou que os responsáveis que tiveram de negociar com a Troika queixavam-se com frequência de terem que lidar com altos funcionários e não com políticos, reconhecendo, sem criticar os altos funcionários, que não se coloca um alto funcionário face a um primeiro-ministro ou a um ministro das Finanças, políticos eleitos que merecem como interlocutor um comissário ou um ministro como peso do Eurogrupo.
Elementar, digo eu, acrescentando que mais vale tarde do que nunca embora tudo isto pouco valha se nos lembrarmos que também em finais de 2013 a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, reconhecia, mas sem qualquer consequência prática, que o FMI tinha errado e que a Grécia e Portugal deveriam ter tido mais tempo para cumprirem programas que exigiam “demasiada consolidação orçamental, demasiado depressa.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 23 de Fevereiro de 2015 no Jornal i