Há muito que venho, com regularidade, reforçando as vozes dos que dizem que um dos sinais de mudança que o país mais reclama é o da inversão da tendência para um acentuado empobrecimento da classe média. Baseio-me na história das economias dos países que crescem com desenvolvimento para a maioria da população, apostando na promoção de pessoas que estavam na base da pirâmide social e não o contrário.
Defender e promover a classe média, fazendo entrar, consistentemente, na economia formal muitas das pessoas que estavam excluídos da distribuição da riqueza gerada, e criando ou consolidando outros desafios assumidos pelo Estado, como são os serviços público de saúde ou a escola pública, é uma marca dos países que apostam num ciclo de crescimento num ciclo onde também cabe, como estratégia importante, a renovação das cidades.
Como também já terei dito aqui, muitas experiências políticas em todo o Mundo demonstram que a Classe Média é um dos pilares dessas transformações positivas e que estas são mais visíveis nas cidades quando conseguimos que essas mesmas cidades assumam profundas reformas urbanas, com vista à qualidade de vida, no plano dos transportes, da mobilidade, da habitação. Desafios que não se compaginam com o empobrecimento deste núcleo fundamental às sociedades modernas, onde se situam muitos que são proprietários da casa que habitam, ou que são arrendatários mas apenas por opção.
Esta não será porém a via do nosso crescimento e desenvolvimento se cerca de 75% da população portuguesa que vive dos rendimentos provenientes do trabalho continuar a ganhar menos de mil euros mensais, muitos dos quais estão mesmo longe dos mil euros pois 21,2% ganham até 505 euros por mês , 20,5% ganham de 505 a 600 euros e 33,5 % de 600 a 1000 euros. Em vez de consolidarmos a classe média requalificamos a nossa emigração enviando os nossos filhos para o estrangeiro.
É que entre nós, os nossos jovens licenciados, de elevada formação académica, alguns até doutorados, não entram sequer na vida ativa pelo patamar dos mil euros. Muitos ainda nem sequer entraram valendo-lhes apenas o facto de viverem em casa dos pais que também não estão assim tão desafogados na vida nem mesmo se não tivessem de apoiar filhos que prolongam a sua falta de autonomia por muitos anos, por muitos mais anos do que os pais deles prolongaram.
As Economias de sucesso mais consistentes têm em comum a consolidação e o reforço das classes médias, grupo ao qual dificilmente acedem aqueles que ganham mil euros por mês. Não solucionar esta contradição é contribuir para o colapso dos modelos de sociedade baseados nas Economias de Mercado, com todas as consequências inerentes.
E o colapso do desenvolvimento sustentado de Portugal, no seio da Europa, será o colapso de parte da Europa, pois os chamados efeitos de dominó, também conhecidos pela expressão mais complexa de contágio sistémico, não são perigos exclusivos do sistema financeiro.
Não se trata de viver acima das nossas possibilidades. Trata-se de viver, que é diferente de sobreviver, ou seja, trata-se de viver de acordo com os padrões da Europa a que pertencemos de pleno direito
Foi olhando este horizonte que o “boom” imobiliário português dos anos 80 e 90 do século passado aconteceu.
É por isso que entre a classe média que importa voltar a defender, estão também muitos proprietários de casas, em regra casa própria mas não exclusivamente, gente que também deve e merece ser protegida, nomeadamente dos excessos da fiscalidade que se abate sobre o património. Muitos deles temem voltar a cair para a base da pirâmide social, por força dos impostos excessivos, da perda de apoios sociais da inexistência de políticas de emprego com inerentes e fortíssimas taxas de desemprego .
Governar, reconheço, é equacionar tudo isto e escolher o caminho que mais esperança oferece.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 2 de Abril de 2016 no Sol