Embora suspeitasse que o Brexit pudesse beneficiar a procura do imobiliário português por parte de cidadãos britânicos desejosos de garantir segurança para os respetivos investimentos, nunca imaginei que esse fenómeno começasse a afirmar-se tão cedo, como já vou lendo em muita imprensa.
Por coincidência, estive em Londres no passado dia 24 de Junho, o dia seguinte ao da votação do referendo que decidiu a saída do Reino Unido da União Europeia, quase dezassete milhões e meio contra dezasseis milhões e pouco, num escrutínio renhido que colocou acrescidas apreensões dentro e fora do Reino Unido, seja temendo que a plausível desvalorização da libra faça diminuir as exportações para a grande ilha, seja internamente, temendo pela desagregação do próprio Reino Unido.
Numa das minhas primeiras reflexões sobre o Brexit, disse que o sector imobiliário português, que capta muito investimento proveniente de cidadãos britânicos, não iria sofrer muito – quem quer e pode investir fora da Grã-Bretanha continuará a fazê-lo, pois a potencial desvalorização da libra face ao euro não será tão significativa que o encarecimento dos nossos ativos passe a ser um impedimento à sua compra. O que não contava era que o efeito Brexit num aumento da procura do nosso imobiliário fosse evidente tão rapidamente.
Como também então quis sublinhar, o Brexit não fará levantar muros em Portugal que dificultem a entrada de cidadãos britânicos no nosso país, incluindo aqueles que possam estar interessados em investir no nosso imobiliário – a procura do imobiliário português por parte de ingleses e de outros cidadãos britânicos já existia antes de Portugal entrar para a CEE hoje União Europeia.
O contrário, ou seja, uma certa agressividade contra os estrangeiros que residem, trabalham ou estudam, parecia, e ainda parece, mais evidente do que o aumento da vontade dos britânicos em investirem em países da União Europeia. Isto só prova que há decisões que deviam ser assumidas com a serenidade que algumas emoções não favorecem.
Mas tudo isto também prova que em momentos de alguma crise e incerteza, como as que poderão acentuar-se no Reino Unido, há tendência para que os investidores procurem latitudes mais seguras. Na convicção reconhecida que os efeitos potencialmente positivos de uma saída da UE como a de cidade pelo Reino Unido irão demorar alguns anos a chegar e se o contexto económico se mantiver como o vemos hoje.
Sem querer aproveitar o Brexit como alavanca para a captação de investimento estrangeiro pelo mercado imobiliário português, direi que os investidores britânicos continuarão a ser bem recebidos em Portugal, mesmo que seja apenas em nome de uma das mais velhas (e como tal também as vezes problemática) alianças políticas existentes no Mundo – a aliança entre Portugal e o Reino Unido.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
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Publicado no dia 11 de Julho de 2016 no Jornal i