Nas chamadas economias de mercado que nos últimos anos vivem em permanentes crises sectoriais, ciclicamente agravadas por crises globais, como seja a recente crise do sub-prime, a criação e o acesso ao emprego, preferencialmente de qualidade, faz sempre a diferença e é, na opinião de muitos, o segredo que abre as portas do futuro.

O espectro do avanço tecnológico que lança no desemprego muita gente, nomeadamente nas profissões onde as máquinas substituem, com vantagens, a mão-de-obra, esse medo generalizado não é novo. Basta lembrar o que é que a Via Verde trouxe para alguns portageiros de autoestradas portugueses ou o que é que resultou da introdução dos terminais multibanco.

Com base nestas realidades e projetando cenários de diversa natureza, há investigadores universitários, como Michael Osborne e Carl Frey, que alertam profissionais de áreas como a contabilidade, a mediação imobiliária ou a banca para a probabilidade de, no médio prazo, tais empregos virem a ser ocupados por hardware e software.

Há muito que os bancários sentem na pele os efeitos dos avanços tecnológicos, há muito que os agentes imobiliários que se limitavam a ser “taxistas” de potenciais interessados na aquisição e ou arrendamento de imóveis veem o respetivo futuro com apreensão e há muito que a contabilidade, e muito menos a criativa, é um sonho para quem quer uma saída profissional.

Este ou estes problemas marcam a vida das cidades modernas, são preocupantes para as economias, por serem preocupantes para os cidadãos que vivem nessas economias, e exigem reflexões e soluções globais que as máquinas, por mais poderosas que venham a ser, não estão em condições de encontrar.

É por isso que se fala e aposta muito nas chamadas indústrias criativas, possuidoras de uma criatividade específica, como sendo indispensáveis à criação de emprego com qualidade. Londres, até há pouco uma das capitais mais criativas do Mundo, chegou a empregar nestas áreas mais de 800 mil pessoas que geravam mais de 35 mil milhões de libras por ano.

Mas estas soluções exigem uma permanente atenção, tal como se exige aos restaurantes que ganham estrelas Michelin. Não basta ter estrela é preciso mantê-la. Como não basta apostar nas industrias criativas sendo preciso mantê-las, o que implica criar condições para que os criativos verdadeiramente necessários a esta quarta revolução industrial possam desenvolver trabalho.

Felizmente que Portugal, com especial relevo para Lisboa, tem vindo a apostar na atração destes trabalhadores criativos, oferecendo qualidade de vida a todos eles e em todos os aspetos, desde a facilidade de alojamento e de autorização de residência à aceitação dos mais variados estilos de vida, atitude tanto mais inteligente quanto outras cidades começaram a descurar estes aspetos.

É neste quadro global que entra a Web Summit em Portugal, mas também a reabilitação urbana dos centros históricos de Lisboa e do Porto, a inclusão, tanto mais harmoniosa quanto possível, de estilos de vida diferenciados, incluindo tudo o que se relaciona com diversão, e muitas outras reinvenções, inclusivamente de profissões que alguns já dão como condenadas.

O agente imobiliário que souber atuar neste quadro de desafios terá seguramente outras oportunidades que não o desalento que lhe vocacionam os professores universitários de Oxford que já citei. As segundas oportunidades existem e são indispensáveis desde que saibam ser tão criativas quanto os desafios desta quarta mas criativa revolução industrial.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 30 de Novembro de 2016 no Público

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