Os justiceiros da internet revoltaram-se uma vez mais com um fait-diver que ganhou direito a ser discutido e debatido em quase todos os órgãos de comunicação nacionais, tendo esta insurreição tido honras de chegar até aos media estrangeiros.
Uma vez mais, Madonna no centro das atenções. Mas, se numa primeira fase toda a gente estava eufórica com o facto de a cantora ter escolhido Lisboa para viver (com comentários sobre onde ia, onde estava, com quem estava, o que fazia, o que comia, o que bebia…), agora já não se acha graça nenhuma a que a rainha da pop venha aqui para o nosso País à beira mar plantado ter benefícios que os demais cidadãos não têm, como estacionamento para os seus automóveis.
A Câmara Municipal de Lisboa cedeu (legalmente e contratualmente) um terreno para o estacionamento da frota automóvel da artista e como tal a tacanhez portuguesa não demorou a ocupar as caixas de comentários das redes sociais e jornais online.
Porque era o que mais faltava, a Madonna tem muito dinheiro e pode bem pagar o seu estacionamento, porque os demais cidadãos têm que pagar para estacionar ou a EMEL deixa o envelope no limpa-para-brisas…. Enfim, porque sim e porque não, como é apanágio nacional.
Só que, por muito que nos custe admitir e perceber, a verdade é que não somos todos iguais. Madonna é uma artista reconhecida internacionalmente e transversal a diversas gerações. Mesmo que até não se aprecie e não se lhe conheça as músicas, não haverá muita gente que não saiba quem ela é.
E, de entre centenas de países que existem no mundo, Madonna escolheu Portugal para viver, o que para nós, é publicidade gratuita. No mundo inteiro. Cada vez que Madonna refere Portugal ou publica uma foto sua no nosso País, encaixamos milhares, talvez milhões de euros. É promoção grátis, que nos é dada de bandeja, por uma influenciadora com projeção mundial, que promove o Turismo e consequentemente o emprego e a dinamização da nossa economia.
Não passa sequer pela cabeça dos justiceiros cibernéticos o retorno que a escolha de Madonna nos traz e que ultrapassa largamente qualquer renda que a cantora pudesse pagar para estacionar os seus carros.
Aquilo que para todos devia ser um prestígio, tornou-se um grande alvoroço. Não desmerecendo as necessidades de estacionamento que todos os portugueses (em particular os lisboetas) terão e o valor que são obrigados a pagar para o poder fazer, a verdade é que nenhum deles é Madonna e não terá o elevado impacto económico que a artista tem.
Medina não fez nada de extraordinário. Quem vê e ouve o alarido feito à volta deste fait-divers, pensará decerto que nos faltam problemas sérios para debater.
E um desses problemas, que talvez merecesse o nosso debate e atenção, é a esta certa invejazinha eterna nacional, que se revela sempre que alguém tem algo que que a maioria não tem ou não pode ter.
Luis Lima
Presidente da CIMLOP
Publicado no dia 11 de julho no Jornal Público