Usamos a medo a palavra medo, mas ela existe e o medo também. De passagem por Paris, onde me encontrei com  o meu amigo Alain Duffoux, presidente do Syndicat National des Professionels Immobiliers (SNPI), uma importante associação empresarial de França, com quem mantenho parcerias associativas, o medo esteve implícito na escolha do restaurante onde fomos almoçar, decisão onde o factor localização relativa parece pesar mais.

Não tendo sido tema de conversa, a verdade é que passamos, pelo menos nas grandes e populosas capitas da Europa do Norte, a olhar mais para os outros como se fosse possível identificar aquele ou aqueles que, de repente, assumem um desprezo pela vida dos outros e pela própria vida deles, na obsessão contra o modelo de sociedade que o Ocidente herdou da Revolução Francesa, um modelo que evoluiu para os modernos Estados de Direito e que tem a Liberdade e o respeito pela Liberdade dos outros como um dos pilares civilizacionais.

Isto é mau para todos nós, incluindo para o sector imobiliário, mesmo que, circunstancialmente, possa parecer que países como Portugal poderão oferecer outra e mais eficaz segurança às respectivas populações comparativamente à segurança possível em cidades que parecem estar mais na mira das expedições punitivas de certos grupos armados. Assim também será, mas num Mundo global como o que vivemos, estas certezas podem ser muito incertas.

Não podemos acreditar que o crescimento da procura do nosso imobiliário por parte de estrangeiros, procura não apenas centrada no turismo residencial, é, em parte, motivada pelo medo que esses estrangeiros tenham face a outras localizações geográficas, noutros tempos mais apetecíveis para aqueles que gostam de viajar. Não podemos, embora a tentação de que isso aconteça seja grande.

Não necessariamente nomeável, mas traduzível naquele cuidado extremo aplicado à escolha do restaurante. E, no entanto, a preferência pelo nosso imobiliário baseia-se noutros critérios, mais normais e é disso, da nossa hospitalidade, da qualidade de vida média que podemos oferecer nas nossas cidades, do nosso Sol ameno, da relação preço / qualidade dos nossos imóveis, e é de tudo isto, e não do medo, que nos devemos orgulhar.

Nos Estados Unidos da América, um certo e datado boom do acesso das populações à propriedade da casa que habitam foi muito importante para diluir problemas relacionados com o racismo, por exemplo relativamente às comunidades afro-americanas. Há estudos sobre este fenómeno e este papel que o imobiliário norte-americano assumiu é um enorme orgulho para quem aí trabalha no sector, aliás muito prestigiado nos EUA.

Como afirmei há algum tempo num encontro realizado no Dubai, “abrir rotas para países cuja procura pelo nosso imobiliário é hoje crescente, como está a acontecer relativamente à França ou a países de língua oficial portuguesa, nomeadamente o Brasil, é já uma tradição do nosso imobiliário mas – acredito e desejo – sempre pela afirmação positiva e nunca pela afirmação negativa.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 30 de Março de 2016 no Público

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