A austeridade que está a impor-se como uma marca na União Europeia, pelo menos nos países de periferia, está a tornar a própria União menos atrativa e a determinar algum desencanto em processos de adesão em curso, como era o da Islândia, agora suspenso, pelo menos informalmente, por vontade do próprio país candidato.

A vitória nas recentes eleições islandesas de partidos antieuropeístas, que também são adversários das políticas de austeridade que foram impostas aos islandeses embora com contornos diferentes da austeridade em vigor na União Europeia, também contribuiu para o desencanto referido.

Registe-se que da parte de alguns países da União Europeia existia e existe também alguma desconfiança relativamente aos caminhos islandeses para superar a crise, nomeadamente quanto à opção de Reikjavique de negar o resgate do sistema bancário, mesmo com prejuízo dos clientes dos bancos.

As incertezas e as hesitações que a Europa tem vindo a revelar neste prolongado processo reacendem, por todo o lado, nacionalismos que são contrários ao aprofundamento da ideia de União Europeia com o retrocesso que esta tendência poderá vir a gerar.

É significativo que o partido vencedor das recentes eleições islandesas seja anti europeísta e se chame Partido da Independência, que o segundo partido mais votado seja também pouco crente na Europa e até que tenha conquistado algum espaço no Parlamento, um partido libertário denominado Partido Pirata.

Em eleições que mobilizaram mais de 83% dos eleitores – o que é muito positivo e raro de acontecer nas democracias ocidentais – a Islândia, país que estava e continuará a estar à porta da União Europeia é um bom barómetro para a própria Europa em cuja área política está claramente integrada.

País fundador da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) iniciaria em 2010 as negociações para o processo de adesão à União Europeia que agora, na sequência dos recentes resultados eleitorais, poderá ficar congelado.

Tendo sido uma das primeiras vítimas da crise financeira mundial identificada em 2008, a Islândia é também uma mancha negra na reputação das agências de notação financeiras internacionais que, em vésperas do colapso islandês, davam-lhe notas muito positivas se, aparentemente, conhecerem a verdadeira realidade do país.

Exemplar para alguns, preocupante para outros, a fórmula como o país enfrentou a crise, isolando-se do exterior e ajustando contas internas num processo de consequências imprevisíveis, volta agora à estaca zero, com o regresso das forças políticas que se encontravam no Poder na hora do colapso.

Embora formalmente alheia deste processo islandês, a União Europeia tinha e tem a obrigação, pelo papel que desempenha no mundo ocidental, de oferecer soluções minimamente atrativas paras as populações europeias, incluindo aquelas que estavam interessadas em fortalecer a própria Europa, mas este caminho não se faz, nem na Islândia nem na União Europeia, com esta austeridade que enfraquece e empobrece.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 10 de maio de 2013 no Jornal SOL

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