Recém regressado da Região Autónoma dos Açores, onde o Governo Regional prepara programas especiais para aquisição de fogos e protocolos com diversas entidades bancárias para que estas concedem condições mais vantajosas no acesso do crédito à habitação, para clientes que apresentem certas condições, recém regressado destas ilhas do Atlântico registo, com agrado, a confirmação da abertura da banca em matéria de crédito à habitação.

Num prolongado cenário de taxas EURIBOR em baixa, com um dos prazos a ameaçar descer abaixo do valor da taxa de referência do Banco Central Europeu, isto é, abaixo de 1%, aguardava-se, há muito, que a banca voltasse a ganhar confiança no Mercado e nos clientes e abandonasse a política de compensação de riscos através do aumento dos spreads altos, numa atitude indispensável para gerar a confiança dos próprios mercados.

No mercado imobiliário português – não é demais repeti-lo – existe procura e existe oferta. O que tem faltado, como aliás não me canso de sublinhar, é uma adequada abertura do crédito para a aquisição de habitação. Felizmente é agora mais claro que aquelas cautelas do mundo financeiro podem causar grandes males à economia real e, consequentemente, ao próprio mundo financeiro. Às vezes não se morre da doença mas morre-se da cura.

Embora a dívida e a calendarização da dívida sejam, em média, menores num crédito automóvel, não deixa de ser curioso comparar a facilidade com que se acede a um crédito para aquisição da viatura, com a dificuldade de um crédito para a aquisição de uma casa, sabendo-se, como se sabe que a desvalorização do bem móvel é rápida e irreversível enquanto que o imóvel, em regra, se valoriza.

Não está em causa a necessidade de olhar com atenção para a indústria automóvel, cuja importância para as economias dos países industrializados é, directa e indirectamente, enorme, mas o privilégio que se detecta no acesso ao crédito por parte de quem quer comprar carro novo, comparativamente com quem quer casa nova, dá para pensar. Que ao menos a indústria automóvel corresponda no importante plano das preocupações ambientais.

No quadro da já agendada recuperação daquela que alguns especialistas  dizem ser a mais significativa das crises depois da depressão de 1929, fala-se que o Mundo que as Economias de Mercado vão gerar (e gerir, espero eu) será muito diferente e terá regras muito diferentes das que marcavam a sociedade ocidental. Aceito como boa esta previsão, mas direi que o acesso à habitação, tendencialmente pela via da aquisição de casa própria, continuará a ser um dos sinais exteriores de referência de uma classe média que se assume como o cimento das democracias ocidentais. Mais do que ter carro próprio – acredite-se – como aliás já algumas democracias do Norte da Europa o mostram, embora este sinal exterior continue a ser, pelo menos na Europa do Sul, um dos índices de conforto.

Independentemente deste ou daquele padrão de conforto ser mais ou menos significativo para uma sociedade que se quer democrática e com elevado nível civilizacional, a verdade é que as economias reais só conseguirão recuperar-se em pleno se o mundo financeiro tiver e gerar confiança numa Economia de Mercado equilibrada, isto é, regulada quanto baste e livre o suficiente para que seja competitiva e, consequentemente, produtiva.
 

Luis Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 10 de Julho de 2009 no Sol

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