Depois da vitória do “não” no referendo sobre a proposta de reforma constitucional em Itália (que afetaria um terço da constituição e que havia já sido aprovada no parlamento, mas com uma margem curta que obrigou a que fosse também aprovada em referendo) que resultou na posterior renúncia do primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, a União Europeia, (U.E.) volta agora a enfrentar uma nova crise, que coloca uma vez mais o futuro do projeto europeu largado numa jangada em mar alto.

Depois dos britânicos terem votado positivamente o Brexit (saída do Reino Unido da U.E.), a derrota da reforma proposta por Renzi, tornou-se uma quase avaliação política do seu percurso, que culminou num resultado que veio abalar ainda mais a estrutura da U.E. e a permanência da Itália na zona Euro.

Apesar deste referendo ter sido sobre a constituição italiana, o seu resultado não deixa de ter implicações sobre a Europa, e não há dúvidas de que a decisão do povo italiano foi reveladora de uma enorme insatisfação que se faz sentir sobre o atual panorama político, que se materializou numa vitória das forças populistas que têm vindo a ganhar terreno um pouco por todo o mundo.

No horizonte avistam-se agora eleições antecipadas em Itália, e o crescente aumento da popularidade de partidos como a Liga do Norte ou o Movimento Cinco Estrelas (M5S), que se posicionam na linha da frente para assumir a liderança do País, e que afirmam publicamente que irão referendar a permanência do país no Euro. E a Europa volta a abanar.

Este 2016 tem sido um ano surpreendente no que ao panorama político diz respeito. Depois da vitória do “sim” no Brexit, da inesperada eleição de Donald Trump nos Estados Unidos da América, e da recente vitória do “não” neste referendo em Itália que resultou na demissão do seu primeiro-ministro.

Os olhos viram-se agora, expectantes, para a França e Holanda. 

O partido de extrema-direita Frente Nacional, que se assume como populista, anti-imigração e antieuropeísta, liderado por Marine Le Pen, surge à frente nas sondagens para as eleições presidenciais francesas de maio de 2017. Já as eleições holandesas apontam para uma provável vitória de Geert Wilders, o líder do Partido para a Liberdade que alimenta um discurso de discriminação e de ódio contra a imigração.

E o futuro do projeto europeu avista-se na forma de um gigante ponto de interrogação.

Os atos de manifestação da vontade das populações são tão inesperados quanto surpreendentes. Em todas elas tem vencido, sobretudo, o voto de protesto contra o sistema e há nestas votações um denominador comum: o generalizado descontentamento relativamente à política dominante, num descrédito total que acaba por exaltar indesejados extremismos.

Felizmente, sector imobiliário português tem-se aguentado firme perante estes abalos políticos, e tem conseguido continuar a captar investimento estrangeiro, nomeadamente o britânico cujas quebras se anunciaram erradamente aquando a vitória do Brexit. O interesse dos ingleses no imobiliário português mantém-se, bem como o potencial de podermos estar no centro da procura do investimento, por potenciais investidores que queiram alternativas seguras às dos seus Países.

Os próximos tempos são de verdadeira incerteza, e só mais tarde sentiremos as consequências dos resultados do Brexit, da eleição de Donald Trump e da demissão de Renzi.

Mas uma coisa é certa e com efeitos imediatos: os cidadãos já não confiam na política, nos partidos, nem em quem os representa ou deveria representar – os políticos. 

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 21 de dezembro de 2016 no Jornal Público

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