A agência de notação Fitch voltou a atacar o imobiliário português, dizendo que a estabilização dos preços ainda não foi alcançada. De quando em vez, esta agência faz estimativas para o mercado imobiliário português que são, invariavelmente, assumidas sempre no mesmo sentido, isto é, da promoção dos interesses dos investidores estrangeiros.
Nas mais recentes previsões desta agência, trabalho que não contabilizo à ordem de qualquer teoria conspirativa como alguns compatriotas meus irão apregoar, há um verbo que pode estar a trair a seriedade das posições. Refiro-me ao verbo “corrigir”, utilizado pelos analistas da agência, numa clara insinuação de bolha imobiliária inexistente.
Na verdade, na linguagem destes especialistas, a expressão utilizada é a de que Portugal, nesta matéria, vai continuar a corrigir. Dando de barato esta ideia é legítimo perguntar o que é que vai continuar a ser corrigido? Preços inflacionados dos bens imobiliários? Mas não houve qualquer tendência neste sentido em Portugal.
Em Portugal nunca se viveu, muito menos no presente século XXI, uma bolha imobiliária como a que ocorreu nos Estados Unidos da América, onde a quase centenária agência Fitch nasceu. Nem como a que atingiu Espanha e outros países europeus. Nesta base, é legitimo insistir na pergunta – corrigir afinal o quê?
Já em tempos denunciei a visão incompleta que a Fitch, como outras agências, têm de Portugal. Uma visão distorcida quando falam de um excesso de imóveis devolutos, sem referir que uma parte muito significativa desses números contempla imóveis degradados, a carecer de reabilitação, ou mesmo casebres para demolição.
A Fitch precisa de mostrar trabalho sobre o mercado imobiliário português, pois atribui “ratings” às obrigações sobre crédito hipotecário que são emitidas pelos bancos. É compreensível, mas é também desejável que conhecesse melhor a realidade do nosso país e não caísse em primarismos com faltas de rigor inaceitáveis neste patamar.
Um exemplo desta precipitação para mostrar um trabalho que não existe é a previsão da Fitch a “revelar” que o ritmo das dações por incumprimento deverá diminuir. Como é sabido, com números concretos, esses valores já estão a diminuir e foram já tornados públicos – a Fitch, afinal, põe-se a adivinhar uma situação que já é conhecida.
A este propósito dizem “esperar aumentos mais moderados nas dações de imóveis” quando devem saber que os números dos últimos trimestres de 2012 sofreram já baixas e que, no todo, o volume das dações de imóveis do ano passado foi inferior ao verificado em 2011. São números escrutinados e tornados públicos.
Mas são também números que contrariam as vontades de quem continua a estar muito empenhado na continuada queda do valor do património imobiliário português, em ataques suscetíveis de impedir que esta riqueza construída possa contribuir para a própria recuperação do país, promovendo-se, por exemplo, como destino seguro, que realmente é, para qualquer investimento, desde que não especulativo.
Luís Lima
Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP –
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 25 de janeiro de 2013 no SOL