Há quatro anos, um estudo coordenado pelo Centro de Estudos Territoriais do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (CET/ISCTE), com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, revelava que a maioria dos portugueses tinha uma apreciação muito positiva da casa e do lugar onde viviam.

Estes resultados refletiam os efeitos das décadas de 80 e 90 do século passado, anos correspondentes à explosão da construção e à corrida à aquisição de casa própria que marcou o nosso passado mais recente, na consolidação de uma classe média emergente e o aparecimento, entre nós, de profissões novas e de novos hábitos de consumo, bem como de uma maior exigência em material de qualidade de vida.

Para a geração que beneficiou desse upgrade, habitar melhor foi, em primeiro lugar, ter mais espaço, mais conforto (que advem da melhoria do estado da arte de construir em materia de insonorização, de fiabilidade e durabilidade dos materiais e de eficiência energética) e poder viver numa área de residência vocacionada para área de residência com valências externas de qualidade, seja nos serviços públicos, seja nos transportes, seja no espaço ambiental envolvente.

Faltava, há quatro anos, uma maior consciência para as múltiplas vantagens da reabilitação das cidades, num quadro de desenvolvimento sustentado, capaz de se afirmar pela conjugação de várias vontades, entre as quais – é oportuno lembrar – as vontades das instituições de crédito, clássicos motores de crescimento em qualquer economia dita de mercado.

Neste nosso recente processo histórico, este mercado começou por ser marcado pela oferta mas foi mudando, gradualmente, sendo hoje determinado muito mais pela procura, sendo esta agora mais determinada pela globalidade das ofertas urbanísticas que se apresentam a quem continua a procurar a melhor localização para viver bem.

E hoje, numa leitura dos promissores números das transações imobiliárias concretizadas no primeiro semestre de 2014, podemos ver que a procura não se esgota nos concelhos das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, naturalmente as mais atrativas, mas aparece também noutros concelhos, incluindo no interior do país.

Nos dez melhores municípios portugueses dos mais de 80 onde, neste ano, já foram celebradas mais de 200 transações imobiliárias, sete não pertencem a essas duas áreas metropolitanas e nestes sete há localizações que não podem ser consideradas do litoral. Estou a referir-me a Loulé, a Leiria, a Pombal, a Viseu, a Águeda, a Barcelos e a Vila Nova de Famalicão. Nestas localizações, a par de Lisboa e do Porto, o imobiliário está a assumir parte da responsabilidade de uma retoma que todos queremos e precisamos.

A procura que o imobiliário português tem vindo a registar é, em parte, assegurada por cidadãos estrangeiros, da União Europeia e de fora da União Europeia, mas há também uma crescente procura do mercado interno, que ganhou algum entusiasmo e dinâmica com a própria dinâmica alcançada nos mercados externos.

Boas notícias para este Verão, num cenário em que a nossa Economia ainda enfrenta muitas dificuldades, entre quais algumas inesperadas, mas onde o imobiliário, em parte incentivado por uma reabilitação urbana que avança de mãos dadas com o arrendamento urbano e com o turismo residencial pode voltar a mostrar força para dinamizar o país.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliártio de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 04 de agosto de 2014 no Jornal i

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