Há momentos na vida, e não exclusivamente momentos de festa, onde devemos fazer um esforço para não destoar na fotografia. São, em regra, momentos solenes, alguns difíceis, em que devemos saber abandonar a irreverência quase infantil em que crescemos, invariavelmente a querer aparecer de jeans e ténis, mesmo quando a etiqueta (dress codes) exige trapos mais formais.
Citando uma ocorrência, registada ainda no tempo da Velha Senhora, lembro um advogado de defesa que interrompeu as alegações finais, ao julgar ver o juiz a dormitar. Este, ao detectar a interrupção, apressou-se a incentivar o prosseguimento da alegação final, despertando totalmente quando ouviu a justificação do velho advogado.
– Não quero privar o meritíssimo juiz das minhas humildes palavras.
– Eu tenho estado a acompanhar as palavras do senhor doutor – respondeu o juiz, fazendo mesmo questão de citar, e com algum rigor, a última frase proferida pelo advogado antas da interrupção.
– Nunca duvidei que Vossa Excelência estivesse a ouvir-me, mas o formalismo do Tribunal é tal que mais importante do que ouvir é parecer que estamos a ouvir.
Mal comparando, pois será difícil saber quem é quem no “julgamento” que os Estados, incluindo o nosso, estão a sofrer por causa da chamada crise das dívidas soberanas, também por cá, devemos fazer um esforço para não destoarmos nas constantes fotografias de família que nos tiram e, como na sessão do tribunal que citei, pelo menos fazer passar a imagem de que estamos empenhados nesta nossa batalha comum.
Independentemente dos juízos de valor que possamos fazer sobre as instituições internacionais e sobre os mercados financeiros internacionais que teimam em vigiar-nos com um rigor quase microscópico, a verdade é que temos de reconhecer o quão importante é ser convincente quanto à nossa capacidade de superar estas vicissitudes. A menos que queiramos romper com os espaços em que nos inserimos, na Zona Euro e na própria União Europeia, o que parece que ninguém advoga.
Com os cuidados próprios de quem preside a uma associação empresarial, o que implica um respeito total por todas as sensibilidades politicas constitucionalmente aceites, e sem, em alguma circunstância, trair as minhas próprias convicções, devo sublinhar a emergência da situação que vivemos e defender a prioridade do interesse nacional demasiado frágil, na minha modesta opinião, para arriscar uma crise politica que a incerteza dos processos eleitorais antecipados sempre gera.
É por isso que há momentos na vida onde é importante fazer um esforço para não destoar na fotografia.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
Publicado dia 17 de Março de 2011 no Público Imobiliário