Todos nós sabemos que, às vezes, certos textos jornalísticos não conseguem justificar o título utilizado para captar mais leitores. A arte de titular é difícil, principalmente quando devemos ser atractivos e sintéticos, mas sem omitir informação essencial ou, muito menos, sem inventar informação inexistente.

Há dias, levei o esforço de síntese quase ao máximo e titulei um pequeno texto de opinião com a expressão “Cimento Verde”, o que me fez sentir a necessidade de expressamente referir, no texto do artigo, que, na verdade, não há cimento verde mesmo quando queremos ser mais ecológicos.

Numa conferência a que, este ano, assisti no Porto, o arquitecto japonês Sou Fujimoto surpreendeu a ocidental assistência, com projectos de casas (como o da  inovadora “Casa da Madeira” com que venceu o World Architecture Festival de Barcelona), a antecipar o futuro da arquitectura, num quadro de desenvolvimento sustentado.

No exemplo mais emblemático – o projecto premiado em Barcelona -, Sou Fujimoto utiliza, basicamente, materiais tão naturais como a madeira, e substitui o chão, os pilares e as escadas por uma gradação de espaços, mostrando que a intervenção dos arquitectos, pode e deve ser mais ampla do que construir edifícios.

Mais do que um projecto inexequível, pelo menos em muitos municípios portugueses, onde aprovar um projecto arquitectónico é teste a que, presumo, Sou Fujimoto felizmente nunca teve de se submeter, mais do que um projecto inexequível, essa “Casa da Madeira” é um exercício de reflexão sobre o futuro da Construção e do Imobiliário.

Uma reflexão permanente para nós, mediadores imobiliários, profissionais que conhecem, como poucos, os limites desta ocupação do planeta, visíveis nos anseios e nos desejos de certa Procura mais exigente, mas também, felizmente, nas preocupações da Oferta mais consciente. O nosso futuro tem de ser mais verde.  
As cidades imobiliárias que nascem a partir das pontes entre a Oferta e a Procura, pontes que a mediação imobiliária sabe erguer, são desenhadas em cimento verde, o cimento que molda a consciência ecológica que reconhece e impõe modelos de desenvolvimento sustentado, na construção e na reconstrução, e que se materializa em casas inteligentes, energeticamente auto-suficientes e noutras qualidades de futuro… É este o caminho.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 16 de Outubro de 2009 no Diário de Notícias

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