A leitura dos mais recentes dados do Banco de Portugal, revela que os bancos portugueses estão a alimentar-se, cada vez mais, no Banco Central Europeu (BCE), e a financiar preferencialmente o Estado com prejuízo do crédito posto à disposição das empresas.

É uma política muito cautelosa, diria mesmo que é exageradamente cautelosa, que faz com que os bancos passem a deter Títulos do Tesouro (tradicionalmente sem risco) e que, por esta circunstância, passem a obter, junto do BCE crédito mais barato.

Em Maio, segundo as mesmas fontes de informação, os pedidos de empréstimo dos bancos portugueses junto do BCE duplicaram relativamente ao mês anterior e foram sete vezes superiores aos empréstimos contraídos um ano atrás.
Este ciclo, mais vicioso do que virtuoso, traduz-se na procura directa ou indirecta, dos títulos de dívida do Estado português, títulos esses que, depois, servem de garantia para obter mais empréstimos e em condições mais favoráveis junto do BCE.

O problema é que neste sistema de vasos comunicantes, as empresas, mais do que os particulares, ficam de fora, enfrentado grandes dificuldades para aceder ao crédito e, consequentemente, para consolidar projectos ou para desenvolver novas iniciativas que possam, por exemplo, gerar mais emprego.

Num sistema de vasos comunicantes, o líquido que nele circula atinge o mesmo nível em todos os vasos, independentemente do diâmetro de cada um, a menos que haja estrangulamentos no sistema – a Natureza, de facto, é sempre uma fonte de inspiração.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 30 de Junho de 2010 no Diário Económico

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