Não temos sorte nenhuma. A Gorda, a Sorte Grande da Lotaria do Natal, a Taluda não passam de terminações. FMI, a sigla do Fundo Monetário Internacional, só sabe rimar com IMI, ou seja, com o Imposto Municipal sobre Imóveis.

Não bastando a “catástrofe tributária” em curso com a reavaliação de imóveis, nas palavras do presidente da Associação Nacional de Proprietários, António Frias Marques, que prevê aumentos do IMI da ordem dos 400%, o FMI parece querer espremer ainda mais a árvore das patacas que é o património imobiliário.

Completamente alheado da realidade portuguesa, onde a propriedade imobiliária foi incentivada quase até à exaustão, os responsáveis do FMI que acompanham as vicissitudes da nossa Economia não hesitam nunca em apostar nos aumentos de impostos sobre a propriedade.

As palavras dos senhores do FMI, que alguém liberta para os media, agridem como pedras – se o aumento do IVA não chegar, dizem aqueles doutos economistas, que se comece a pensar em novos aumentos de impostos como o IMI. Parece encomenda para reforçar uma estratégia que visa a desvalorização do património construído.

Será que os especialistas estrangeiros que nos visitam e integram as chamadas missões da Troika não são capazes de se interrogar sobre esse fenómeno, no mínimo invulgar, que consiste no facto de mais de 75% das famílias portuguesas serem proprietárias da casa onde vivem? 

Pensar que três quatros da população são proprietários abastados e, como tal, suscetíveis de serem fiscalmente castigados em nome de uma solução fácil para a crise seria patético se não fosse trágico para a população portuguesa e para a própria Economia de Portugal.

É desconhecer as circunstâncias históricas que o sistema financeiro tão bem aproveitou incentivando, sem alternativas, a aquisição de casa própria, é desconhecer que o valor do património imobiliário português está a sofrer pressões externas para que aceite uma desvalorização artificial e é saquear esta riqueza acumulada com tanto sacrifício.

Penalizar fiscalmente a propriedade imobiliária, nomeadamente a propriedade imobiliária que serve de habitação aos respetivos proprietários, é quase tão cínico e perverso como sequestrar uns quantos cidadãos da classe média para lhes exigir um sequestro milionário que eles, na verdade, não possuem.

Não temos sorte nenhuma, a nossa taluda não passa de uma terminação.

Luís Carvalho Lima

Presidente da APEMIP

luislima@apemip.pt

Publicado no dia 27 de julho de 2012 no Diário de Notícias

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