O chefe da missão da Troika que nos visitou recentemente, Rasmus Ruffer, alto quadro do Banco Central Europeu (BCE), não é infalível como o Papa e até demonstra um profundo desconhecimento da realidade portuguesa, a fazer fé nas declarações que concedeu à Imprensa.
Segundo estas, não desmentidas, as empresas em Portugal estarão sem problemas de acesso ao crédito e a desalavancagem dos bancos estará a processar-se dentro de toda a normalidade e sem quaisquer consequências negativas para a Economia.
Das duas uma: ou Rasmus Ruffer não reporta a ninguém, como agora se diz para assinalar que alguém está na dependência directa de outrem, ou se reporta já deve ter ouvido das boas pelo que disse no calor das declarações que se prestam à Imprensa.
É que, ao contrário do que ele quis fazer passar – admito que de boa fé, o que ainda é mais grave -, as empresas portuguesas, em especial as pequenas e médias empresas, vivem com enormes dificuldades de acesso ao crédito e sem liquidez para prescindirem de empréstimos.
Aquilo que Rasmus Ruffer só admite para 2012, e como hipótese académica, isto é uma asfixia da Economia com o consequente aumento das falências e o brutal crescimento do desemprego, já não é, hoje, apenas uma hipótese, mas antes uma dura realidade.
Até parece que este quadro superior do BCE não esteve cá, em Portugal. Se ele reportasse a mim, perguntar-lhe-ia o nome do país a que se refere quando fala num sistema financeiro sem problemas e com oxigénio para dar e vender à Economia.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 28 de Novembro de 2011 no Jornal i