A balança, quando o dilema é arrendar ou comprar casa, pesa sempre mais, ou seja, é mais atraente, para o lado da compra. O aumento da oferta de imóveis no mercado de arrendamento ainda é pouco significativo, quer no mercado dos usados, incluindo os reabilitados, quer nos novos. Mas o que prova esta preferência pela propriedade é o sucesso das soluções de arrendamento com opção de compra.

Há claramente mais procura de casas para arrendar do que a oferta existente neste mercado, o que contribui para que os preços dos arrendamentos sejam altos. Mas esta alta da procura deve-se, especialmente, às dificuldades de acesso ao crédito para aquisição de habitação própria.

Há produtos imobiliários naturalmente mais vocacionados para o arrendamento. Produtos virados para alguns segmentos específicos, como estudantes universitários, turistas. Mas a grande vocação do mercado imobiliário é a da compra e da venda. Embora por razões operacionais compreensíveis, a verdade é que a bolsa de imóveis que os bancos contabilizam pelo incumprimento de contratos voltam a oferecer-se para venda.

Na perspectiva de quem procura casa entram variadíssimos factores. A proximidade ao nosso local de trabalho, a proximidade aos nossos familiares mais chegados, a vontade de viver num centro urbano histórico, a vontade de viver junto ao mar. Não há soluções que possam previamente identificar uma boa casa, a casa ideal, a casa dos sonhos de cada um. É que a casa possível pode ter de ser arrendada, mesmo que o sonho não seja o de ser inquilino mas sim proprietário.

Um sonho que, aliás, se projecta em muitos dos programas para promoção de habitação social. Estou a lembrar-me, por exemplo, do programa “Minha Casa, Minha Vida”, lançado pelo Governo Federal do Brasil durante a Administração Lula e expressamente assumido pela nova presidente, a presidente Dilma, um programa que aponta para a aquisição de casa, não para uma solução habitacional baseada no arrendamento urbano.

Podemos sempre dizer – e estaremos a reafirmar perspectivas confirmáveis – que um arrendamento é quase sempre de mais fácil resolução para o arrendatário que queira mudar de habitação, especialmente quando a lei, como a nossa, não impõe ao arrendatário prazos longos para a resolução do contrato de arrendamento, ao contrário do que acontece relativamente ao senhorio.

Ao dizermos isto raramente acrescentamos que um proprietário que queira mudar de casa também pode colocar a casa de que é proprietário no mercado de arrendamento e procurar outra para ele no mesmo mercado de arrendamento. De facto, a questão não é a de comprar ou arrendar, é habitar e é, principalmente, a questão do acesso ao crédito sem esquecer, em última análise, o que se prende com o projecto de vida de cada um.

Nós, que trabalhamos nesta área da Construção e do Imobiliário temos de ter estas questões sempre bem presentes e temos de saber interpretar tudo o que se relaciona com esta complexa realidade.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 3 de Novembro de 2010 no Público Imobiliário

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